Respeitar pessoas trans é só a ponta de um iceberg
Por Laura Venancio de Souza.
Esses dias, uma amiga trans, Onika Bibiana Soares, comentou sobre algo que me deixou pensando e resolvi elaborar um pouco mais aqui. Este post é para as pessoas cis.
Respeitar pessoas trans é só a ponta de um iceberg cujo corpo submerso corresponde à aceitação e ao entendimento da IDEIA da transgeneridade.
Explico: não basta você respeitar sua miga trans como mulher se na sua cabeça se conserva a noção cisnormativa de “pênis = homem, vagina = mulher”. É crucial introduzir à sua concepção de mundo o senso de que genital não faz gênero de NINGUÉM - nem das pessoas trans, nem das cis. Isso inclui você e seu genital também. E seus cromossomos. E seu cérebro. E tudo o mais na sua anatomia.
Isso quer dizer que o filho dentro da sua barriga não é menino só porque você foi lá e olhou seu pintinho num ultrassom. Isso quer dizer que as pessoas que engravidam não são “mulheres”, mas “pessoas que engravidam”. Isso quer dizer que não é adequado falar de homens ou mulheres quando se fala da saúde dos genitais, aborto, câncer de mama ou de próstata. Isso quer dizer que, se você for glorificar a vagina e o poder mágico do útero, você estará se dirigindo a MULHERES CIS e não a simplesmente mulheres. E a homens trans também, e a pessoas não-binárias transmasculinas.
Que noção a transgenereidade introduz? A que fato básico a existência de pessoas trans aponta? Ao fato de que a separação de corpos em masculinos e femininos com base em traços anatômicos trata-se de uma ficção sociocultural. Ao fato de que as identidades de gênero se arranjam socialmente e consistem em uma relação complexa entre corpo, subjetividade e sociedade. Esse é o cerne da questão. TODOS têm identidade de gênero, não só pessoas trans.
Tem que trazer a ideia pra si. Do contrário, conservam-se os lugares estruturais de opressão.
Isso vai lhes salvar de cometer equívocos tais como dizer que “respeita” tal pessoa trans ao mesmo tempo em que fala uma coisa transfóbica, ou fazer festinha de revelação de sexo (sic) de alguém que sequer nasceu, ou ainda de rejeitar uma mulher trans dizendo “sou hetero” ou “sou lésbica”.
No momento em que vocês entenderem isso, daí vai se virar uma chavinha na cabeça de vocês e tudo vai fluir, ninguém mais vai dar bola fora.