Crescer sendo trans
É importante resgatar duas publicações a respeito do crescimento enquanto pessoa LGBT (ou queer), sendo uma delas focada mais especificamente na experiência de crescer como uma pessoa transgênera. Os insights valiosos sobre a socialização de pessoas queer, incluindo lésbicas, gays e bissexuais cisgêneros, contribuem significativamente para a compreensão da autenticidade das vivências trans.
Essas reflexões ganham relevância diante da frequência com que grupos radfem (mais especificamente TERFs) utilizam a noção de “socialização” para invalidar as experiências de pessoas trans, especialmente mulheres trans, ao alegar que estas teriam passado por uma “socialização masculina” desde a infância e, por isso, carregariam automaticamente “privilégios masculinos” e seriam, ou sempre teriam sido, “na verdade”, homens.
Pessoas queer geralmente não crescem sendo quem realmente são; crescem interpretando uma versão adaptada de si mesmas, moldada para minimizar humilhações e preconceitos. Uma das grandes tarefas da vida adulta torna-se, então, desvendar quais partes da personalidade representam a essência autêntica e quais foram criadas como mecanismos de defesa.
Trata-se de um processo profundo, existencial e desafiador. No entanto, ser confrontado com a necessidade de autodescoberta tão cedo na vida pode ser encarado como um presente disfarçado. Muitas vezes, pessoas queer emergem desse processo mais sábias e mais conectadas com a própria verdade interior — algo que muitas pessoas cis e heterossexuais jamais experimentam.
Por isso, é fundamental cultivar gentileza consigo mesmo. Descobrir quem se é de verdade é uma jornada imensa; não acontece da noite para o dia, tampouco sem tropeços ao longo do caminho. Acolher a si mesmo com paciência, sensibilidade e vulnerabilidade, e viver com autenticidade, é essencial. E acima de tudo – é motivo de orgulho.