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Culpar a vítima só é visto como algo errado quando a vítima é cis

Autoria anônima.

Olha as ideia:

Mulher cis diz que se sente violentada quando mulheres trans introjetam a opressão. Segundo ela, uma mulher trans que acha que cantada é elogio é UM ATAQUE CONTRA MULHERES CIS.

“Empatia com as mulheres que são violentadas fica onde? Quebra de estereótipos violentos de gênero fica onde?”
Não estou zuando nem editando, ela realmente teve coragem de escrever isso.

Com toda a diplomacia que é possível nessa situação, tentei dialogar e mostrar o quão equivocado e transfóbico é esse tipo de coisa.

Queria fazer um texto gigantesco sobre essa discussão, pq olha, é muita merda pra uma treta só. E tipo, a coisa tá tão errada, TÃO ERRADA, que eu NEM SEI POR ONDE COMEÇAR.

Cagar regras sobre vivências que você não tem. Exigir que pessoas trans se conformem ao que ELA acha válido ser (considerando-se que a violência decorrente de viver dessa forma é uma que ela NUNCA vai sentir). Aparentemente apenas mulheres cis são violentadas e apenas mulheres cis são vítimas disso, vamos ignorar estatísticas, vamos ignorar qualquer pensamento de mais de 2 minutos sobre o assunto.

E é claro que com o andamento da discussão, atacar mulheres trans de forma cissexista e transfóbica virou “discutir padrões de gênero”, exigir que mulheres trans sigam um padrão de feminilidade que você não impõe sobre mulheres cis é “debate”, e eu atacar isso é silenciamento e falta de empatia.

Sim, conseguiu falar que EU não tinha empatia pelos pobres sofrimentos de mulher cis dela que não suporta ver mulheres trans que não vivam suas vidas de acordo com teoria de estimação dela.

Pensem comigo: qual seria a reação, em qualquer grupo feminista, se alguém dissesse que a culpa da opressão das mulheres são, sei lá, as mães que ensinam isso pros filhos e filhas? Qual seria a reação se alguém dissesse que mulheres que reproduzem o patriarcado estão “violentando” outras mulheres? Vindo de qualquer pessoa isso seria considerado pura misoginia, no máximo, se visse de uma mulher, uma falta tremenda de empatia e culpabilização da vítima.

Mas falar isso de mulheres trans é debate aceitável, é normal.

E o pessoalzinho que vive falando sobre sororidade incluindo todas as mulheres assistindo tudo convenientemente caladas. Sororidade é meu pau de óculos enrolado em arame farpado.

Pois sobre pessoas trans é possível atacar a humanidade delas, colocá-las no lugar de opressoras, colonizar nossas vidas e narrativas e sofrimentos sem qualquer consideração maior e tudo isso é aceitável num debate. Culpar a vítima só é errado quando a vítima é cis.

Não aceitar que ataquem minhas irmãs dessa forma é não respeitar o debate, é não querer debater sobre estereótipos de gênero, é achar que tá tudo bem naturalizar e reproduzir opressões.

Uma dica: se você é cis, você não tem direito de palpite sobre como pessoas trans vivem, se entendem no mundo e se comportam com relação ao gênero que têm. Sua opinião não interessa.

Se você quer discutir sobre reproduzir opressões, você ou vai discutir como isso acontece com TODAS as mulheres ou vai manter sua boca fechada.

Eu não vou aceitar que ataquem minhas irmãs. Eu não vou aceitar que usem mulheres trans navegando um mundo MUITO MAIS VIOLENTO que o que você vive como bode expiatório. Eu não vou aceitar colonização cissupremacista. Eu não vou aceitar que culpem as vítimas. Eu não vou aceitar que vocês disfarcem seu discurso transfóbico em nome de debate e discussão teórica.

E por fim, eu não vou aceitar essa sororidade de merda que vocês gostam tanto de falar mas não estão nem aí para a prática quando não envolve mulheres cis.

Imagem: Marcha das vadias de Curitiba.

Written by Beatriz