Por que não se viu Lea T na televisão?
Texto de Lana de Holanda, publicado originalmente em 06 de agosto de 2016.
Na cerimônia de abertura das Olimpíadas a Lea T, mulher transexual e modelo internacional, foi responsável por vir a frente da delegação brasileira. Lea foi escolhida, segundo os organizadores, para passar uma mensagem de igualdade e de quebra de preconceitos, para mostrar ao mundo que as pessoas trans devem possuir os mesmos direitos e a mesma visibilidade das pessoas cis. Lea foi a primeira mulher trans a ser convidada pra participar da abertura de uma olimpíada.
Apesar da mensagem pretendida e apesar da repercussão que a participação da Lea teve antes mesmo do evento (com notícia em vários portais de comunicação, inclusive entrevista ao vivo na Globo News), ontem não se viu Lea na televisão. Não se falou de Lea na televisão.
Lea, como toda boa transexual, foi mais uma vez invisibilizada. É claro que Lea estava a frente da delegação mais esperada, a do Brasil, e isso pode ter atrapalhado os comentaristas afoitos (Galvão Bueno na Globo e Ana Paula Padrão na Band, por exemplo). Mas o que surpreendeu é a empresa que fez a filmagem do evento e a distribuiu para emissoras de todo o mundo não ter focado nem por um segundo em Lea. Empresa essa que obviamente tinha o cronograma de todas as etapas, participações e mensagens que estariam na festa de ontem.
Mais uma vez o grande público brasileiro perdeu a chance de ver que as pessoas trans, principalmente as mulheres, estão aí. Ou melhor, nós estamos aqui, com a cara no sol, e não apenas escondidas nas esquinas da noite.
Seja como for, Lea T está de parabéns por ter sido escolhida para vir a frente da delegação brasileira, nesse que é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. A TV pode ter ignorado, mas nós estamos aqui pra divulgar e enaltecer essa mulher linda, nesse simbolismo lindo.
E para lembrar o que Lea disse na Globo News, um dia antes do evento, ao ser perguntada se ela tinha noção de estar fazendo história: “Eu não faço história por estar nas Olimpíadas. É apenas um símbolo isso. Quem faz história é a trans que vai pra faculdade tentando estudar, ou quem está na rua apanhando e depois tem que seguir em frente”.