QG Feminista e banheiros públicos femininos: precisamos falar sobre isso
Por Beatriz P. Bagagli.
O portal feminista radical trans-excludente QG Feminista fez um post com insinuações de que mulheres trans representam um perigo para mulheres cis em banheiros femininos – com base em absolutamente nenhuma evidência. Citam a organização WHRC, criada pela ativista anti-trans Sheila Jeffreys, que pede, via carta aberta, a eliminação a nível global de todos os direitos coletivos da população transgênera - o que incorreria, se fosse efetivada, em um recrudescimento devastador das condições de vida já extremamente precárias da nossa população em tantos países do mundo.
No post, alegam que “políticas de autoidentidade abrem brechas para homens mal intencionados se aproveitarem”. Raciocínio profundamente falacioso, não embasado em nenhuma evidência ou dado empírico.
Mulheres trans e travestis já acessam os banheiros femininos por “autoidentidade” - e isso acontece desde os tempos imemoriais e continuará indefinidamente - de nossa parte, para todo o sempre. Isso mostra que não houve - e nem haverá - nenhum problema com o fato de mulheres trans já compartilharem o banheiro público com mulheres cis.
Não existe fiscal de gênero em banheiro nenhum e isso seria simplesmente inviável, pois é impossível verificar se uma pessoa é trans ou não pelo olhômetro. Ao defenderem políticas excludentes e segregacionistas, essas pseudo-feministas terão o problema prático de constranger mulheres cis em não conformidade de gênero nos banheiros femininos - ou qualquer mulher cis que seja vista como se fosse uma travesti ou mulher trans. Como irão expulsar mulheres trans e travestis de banheiros em termos práticos?
“Nenhuma minoria está isenta de ter criminosas”. Ora, temos um xeroqui holmis aqui. Mulheres cis também não estão isentas de violentarem e assediarem, nem por isso vamos dizer que mulheres cis não podem compartilhar os mesmos espaços, não é mesmo?
“Vamos fazer um paralelo com homens gays, eles também são constrangidos em banheiros masculinos, não precisaram colidir com os direitos das mulheres”. Com base em quais evidências ela alega isso? Que pesquisas mostram que homens gays são constrangidos em banheiros masculinos? Elas estão pressupondo que o uso do banheiro por mulheres trans “colide” com o direito de mulheres cis. Isso é falso. Além disto, é óbvio que homens gays não vão demandar o uso do banheiro feminino – precisamente porque são homens.
Nenhuma mulher cis teve seus direitos cerceados pelo fato de mulheres trans terem acesso a banheiros femininos. Mulheres cis continuarão a salvo e mulheres trans e travestis continuarão usando os banheiros femininos – como sempre fizeram aliás.
A defesa da segregação de um terceiro banheiro para o uso da população trans, tal como defendida pelo portal pseudo-feminista, é, além de impraticável, uma proposta completamente inconsistente com os direitos humanos da população trans e das próprias pessoas cis em não conformidade de gênero – quando algum energúmeno se acha no direito de expulsar pessoas trans dos banheiros o que vemos na prática são as próprias pessoas cis em não conformidade de gênero sendo constrangidas.
Nenhuma mulher cis foi vitimada em razão do fato de respirar o mesmo ar que uma mulher trans respirou em banheiros femininos públicos. O único problema neste caso é outro e infelizmente ainda persiste no imaginário social: a representação de mulheres trans e travestis como “predadoras sexuais em potencial” ao invés de cidadãs com pleno gozo de suas garantias fundamentais, como o direito de ir e vir - além da presunção de inocência.
LEITURAS RECOMENDADAS SOBRE O TEMA:
“Transgender People, Bathrooms, and Sexual Predators: What the Data Say“, por Julia Serano.
“Trans Women and Public Restrooms: The Legal Discourse and Its Violence“, por Beatriz P. Bagagli, Tyara Veriato e Monica Zoppi-Fontana.
“Como se travestis não fossem humanas: o acesso ao banheiro feminino“, por Beatriz P. Bagagli.