Guest Post: Minhas impressões de Salvador

Por Lívia Podda

Uma das coisas que me influenciou na escolha do meu destino para as férias foi ter assistido o documentário “A cidade das mulheres”, inspirado no livro homônimo da antropóloga estadunidense Ruth Landes que morou em Salvador nos anos 30 o documentário trata da situação atual das mulheres soteropolitanas falando de sua presença e de seu poder (principalmente na religião) na sociedade. (o trailer aqui http://www.youtube.com/watch?v=trvvUNxQIe4 filme completo aqui http://www.youtube.com/watch?v=HseSnVdfEqs )

O documentário me encantou porém não mais que a cidade. Confesso que a noite no meio das avenidas tive a impressão de que lá não seria muito diferente daqui mas estava completamente enganada. Cheguei ao Pelourinho já ao som do Olodum que tocava bem perto de onde eu estava, é impossível passar um dia inteiro no Pelourinho sem ouvir uma batucada ou o som de um berimbau. Viajei praticamente sem planejamento com disposição de ir conhecendo a cidade conforme ela se apresentava pra mim e sinceramente gostei bastante de ter feito isso.

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A cidade é muito bonita, diferente do nosso clima louco (suspeito que nem @s paulistan@ nat@s suportam o clima daqui) lá tem o céu bem azul na maior parte do tempo e um ar bem melhor. Só o fato de andar de bobeira pelo centro já pode ser um programa muito interessante. Não gosto de generalizar a personalidade dos lugares mas sou obrigada a admitir que as pessoas são muito mais amistosas e prestativas por lá (em Sampa parecemos viver numa batalha constante). S1050391

No centro histórico ao passar por todos aqueles sobrados coloridos não tem como não lembrar da música do Caetano (“nas sacadas dos sobrados da velha São Salvador há lembranças de donzelas do tempo do imperador”) e ficar pensando nas coisas que aconteceram por lá, nas pessoas que acabaram tendo seu nome registrado pela história e nas pessoas injustiçadas e esquecidas.

Não existe mais no largo do pelourinho o “pelourinho” (mastro usado para prender @s escrav@s e aplicar castigos físicos humilhando publicamente essas pessoas) e sim dois museus e algumas lojas frequentados por turistas, no Museu da Cidade pode se ver diversas peças interessantes sobre a cultura local (lá pude descobrir que a confecção de ex-votos é uma tradição) e ele tem como o principal mérito ter peças da cultura negra, como por exemplo reproduções dos orixás em proporções humanas, que por sinal parecem que vão sair dançando a qualquer momento. Outra atração que nos traz um pouco mais da cultura africana é o Balé folclórico da Bahia que recomendo fortemente, são apresentadas danças afro e danças dos orixás a apresentação é linda e comovente e a habilidade d@s bailarin@s é simplesmente impressionante.

Aliás algo muito interessante de se comparar é que lá eu vi mais negr@s em peças publicitárias, em todos os outdoors que eu vi tinha ao menos uma pessoa negra (tirando um de uma clínica de estética), antes de ir para lá eu achava que a publicidade de lá fosse que nem a daqui: representa perfeitamente a população… da Lapônia. Isso me surpreendeu bastante e de forma muito positiva, ai está algo para ser copiado por aqui e digo mais não só mostrar mais negr@s como mostrar mais pessoas de verdade.

Outro fato interessante foi ter visto mais gente com o cabelo natural, claro que relaxamentos/alisamentos ainda imperam mas lá tem bem mais gente com black power, dreads, tranças ou até mesmo com o cabelo crespo/cacheado solto sem penteado, acho isso bastante positivo uma vez que o racismo se estende ao menor traço afro mesmo que a pessoa passe por branca.

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Também fiquei contente de ver que o GGB tem bastante força, vi placa da parada LGBT da Praia do Forte que fica em uma cidade chamada Mata de São João que é pequena e basicamente turística e vi uma da Parada da Diversidade em Cachoeira, cidade que já foi grande em outros tempos mas hoje é uma cidadezinha do recôncavo.

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Em Salvador mesmo eu fotografei (do ônibus) um muro que estava pichado com a frase “Diga sim a travesti”, na verdade tinha outras coisas grafitadas inclusive um “Viva la Vulva” do outro lado mas não consegui fotografar, achei magnífico (aliás além das pichações tinha alguns belos grafites).

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As únicas coisas que me entristeceram realmente foram ver algumas construções antigas abandonadas em estado precário e sem a devida reforma por parte do governo, tinha uma meia dúzia de igrejas nesse estado, ver uma joalheria caríssima na mesma esquina que crianças corriam de pé no chão, ao contrário do que ouvi por aqui lá é uma cidade bem limpa e muito agradável só me entristece muito que uma cidade tão negra seja para a grande maioria da sua população uma cidade tão pobre. Também me entristeceu saber que mesmo na “Bahia de todos os santos” também tem intolerância religiosa com as religiões de matrizes afro, vi em uma loja um DVD chamado “Até Oxalá vai a guerra” que fala de um terreiro que foi desapropriado pela prefeitura da cidade, é um absurdo que terreiros antigos sejam desapropriados e destruídos como se fosse algo qualquer e não um patrimônio da cidade assim como os inúmeros templos católicos. Espero que um dia alcancemos a efetiva igualdade para que as pessoas sejam tão ricas em dignidade quanto são em sorrisos.

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Estátuas dos Orixás no Dique do Tororó.

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Farol da Barra.

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Elevador Lacerda com vista para cidade baixa.

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Vista para Ilha de Itaparica.

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Arquivado em Feminismo, Guest Post, Invisibilidade, LGBT, Memória, Política, Reflexões

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