Arquivo do mês: junho 2012

Por que Transfeminismo? Interseção e empoderamento trans*

Recentemente, em um encontro no IEL-UNICAMP, após a apresentação de Diego Jiquilin e Bia Bagagli apontando as similaridades entre o discurso sexista e o cissexista atentando para a emergência da utilização dos termos cisgênero e cissexismo para uma aplicação crítica na mídia (que incluiu algumas imagens publicitárias e notícias veiculadas por portais “LGBT”), uma pessoa levantou a questão da divisão cis/trans* como possivelmente discriminatória, visto que muitas vezes temos a impressão que um dos objetivos dos discursos anti-discriminação de raça, classe e gênero seria a igualdade de sujeitos e consequentemente a não-discriminação.

Decorre que a adoção do termo cis a meu ver tem objetivos políticos de visibilidade trans* e também possui caráter de denúncia dos vários discursos que, veiculados acriticamente, reproduzem discriminações contra pessoa trans*.

No entanto, aqui temos dois tipos de conceito de discriminação:

1) O tipo que visa discriminar indivíduos deslegitimando e desumanizando suas condições como sujeitos sociais e como sujeitos históricos, apagando suas subjetividades, necessidades e excluindo-os dos espaços sociais por meio de discursos e práticas institucionalizadas as quais visam manter esses sujeitos sempre à margem, efetuando assim a manutenção do poder dos sujeitos privilegiados que encontram-se no topo das hierarquias sociais e;

2) O tipo que visa dividir para denunciar as diferenças existentes que caracterizam aquele sujeito como “diferente” justamente nos termos de suas necessidades, historicidades e posição social.

Desse modo, a divisão cis/trans* tem um objetivo político emancipatório: é necessário revelar as necessidades específicas das pessoas trans*, suas histórias, suas posições sociais, para que seja percebido que mulheres trans*, por exemplo, não possuem o mesmo acesso/tratamento que mulheres cis. Muitas feministas negras já apontaram o fato do feminismo ser branco, pois não leva em conta a interseção raça-gênero, cujas particularidades não podem ser descartadas, visto que uma mulher cis negra não teria o mesmo acesso social que uma branca.

Do mesmo modo, as mulheres trans* não possuem igualdade de oportunidade e além de sofrerem sexismo, também sofrem cissexismo/transfobia. Quando falamos em pesquisas do tipo “mulheres ganham menos que homens”, “% de morte de mulheres por violência doméstica é X” etc., sobre quais mulheres estamos falando? As brancas? As negras? As de classe média? As trans*?

É nesse sentido que a diferenciação cis/trans* é necessária, para não englobar e unificar a categoria de mulher apagando as particularidades/interseções que podem dar outro caráter à discriminação sexista, uma vez que o sexismo não age de forma universal em relação a todas as mulheres, pois não existe uma mulher universal. Não significa que essa diferenciação tenha que ser estrita e nem que haja dentro dela juízos de valor deslegitimadores (por ex. o velho discurso de mulheres cis serem mais “reais” do que mulheres trans*), mas significa que ser mulher E trans* nessa sociedade, importa, já que se queremos justiça social para todxs, devemos reconhecer as diferenças e resgatar os sujeitos postos à margem de acordo. As políticas de cotas, por exemplo, seguem essa linha “é necessário diferenciar para verificar a falsa simetria no discurso da igualdade e resgatar os sujeitos postos à margem socialmente”. Não, não somos todxs iguais, somos diferentes, porém isso é válido, e reconhecer isso é o que faz com que de fato estejamos nos igualando de alguma forma.

Uma das críticas feitas ao movimento feminista no fim dos anos 80 leva em conta que o objetivo do feminismo em delimitar a categoria de mulher como universal e homogênea estava fadado ao fracasso, pois a tal “categoria de mulher” era produzida pelo mesmo mecanismo que buscava se emancipar juridicamente excluindo no processo muitas particularidades que lhe custariam caro. Ou seja, não se podia objetivar emancipação política utilizando uma representação universal de categoria de mulher inexistente, pois “ser mulher” era um conceito tão subjetivo e com tantas interseções que não havia como ao mesmo tempo emancipar politicamente todas as mulheres; com efeito, não se poderia emancipar nenhuma.

Esse conceito pode ser aplicado justamente na adoção de uma política transfeminista. Transfeminista, porque desde aquela época até hoje o feminismo se apoia em um discurso binarista dimórfico que exclui mulheres e homens trans* de seus discursos, mesmo que na prática xs aceitem em seus grupos. Tenho percebido, porém, que para que pessoas trans* entrem na “pauta feminista” é necessário sempre insistir e por muitas vezes literalmente gritar, para serem ouvidas dentro desses grupos. Além disso, pautado no dimorfismo, o feminismo não deu conta de representar (e muitas vezes aceitar) a existência de mulheres com pênis e/ou com corpos que não são conformes ao binário (não-cis), mulheres que se sentem bem com tal genital à revelia do discurso médico patologizador guiado por documentos cujo único objetivo é regular e reproduzir o binarismo e dimorfismo de gênero.

A falha do feminismo nesse aspecto, somada com a necessidade urgente da desconstrução de conceitos machistas internalizados por pessoas trans* - herança do velho machismo que busca regular o que é “ser mulher” o que uma “mulher de verdade” deve fazer e como deve agir para então ser considerada “mulher”, fez com que muitas pessoas trans* buscassem uma forma de empoderamento corporal/social/interno que mantivesse uma forte ligação com o feminismo, mas que fosse de certa forma “exclusivo” para pessoas trans*.

Atualmente os corpos trans* em todas as esferas sociais continuam sendo ojerizados, estranhados, evitados. A existência fora do (suposto) binário morfológico é visto como uma execração, uma aberração. As configurações de corpos distintas estão sempre à margem e motivam muitos crimes transfóbicos nos quais por muitas vezes essas pessoas são desfiguradas ou tem seus genitais mutilados. É a transmisoginia operando para regular as configurações “naturais” de corpos transformando todos os sujeitos não conformes em abjeções.

O transfeminismo busca empoderar pessoas trans* e não-cis em seus corpos, sejam/estejam eles conformes ou não conformes. O transfeminismo busca empoderar as pessoas trans* em suas escolhas, sejam elas pelas cirurgias as quais julgarem adequadas, ou pela escolha de manter o corpo como quiser, ao passo que a modificação corporal não é premissa para a identificação de gênero.

O Transfeminismo busca empoderar todas as sexualidades das pessoas trans*, sejam elas heterossexuais, homossexuais, bissexuais, pansexuais, assexuais, e/ou qualquer outra como quiserem se identificar.

O Transfeminismo busca empoderar todos os tipos de corpos, sejam eles gordos, magros, altos, baixos, com ou sem deficiências, pois nenhum tipo de corpo é ou deveria ser premissa para identificação de gênero.

Dessa forma, em termos gerais, o transfeminismo busca empoderar as pessoas trans* postas à margem, devolvendo sua humanidade negada a cada discurso e prática cissexista/transfóbica.


Deixe um comentário

Arquivado em Uncategorized

Nota de Repúdio ao texto “O mundo não é preto e branco, e sim colorido. Vamos falar de sexo?”

Hoje de manhã ao ler uma nova postagem feita no blog do Sakamoto, me deparei com um texto bastante problemático. Após discutir o assunto na comunidade Transfeminismo do FB, decidimos escrever um email de resposta ao texto:

Tranfeminismo

Em relação ao texto “O mundo não é preto e branco, e sim colorido. Vamos falar de sexo?” escrito por Claudio Picazio e publicado no Blog do Sakamoto.

Prezado Sakamoto,

Somos parte de um grupo do FB intitulado Transfeminismo. Somos transfeministas, o que significa que encontramos no feminismo um terreno fértil de combate ao machismo como também para teorização/desconstrução de gênero; porém o feminismo por si só, pautado em uma perspectiva biologizante/determinista de corpo, não pode dar conta (quando não age com transfobia) da multiplicidade de corpos e gêneros que necessitam de empoderamento, em especial as pessoas trans* - as quais são sempre colocadas a margem por todos os outros campos do saber e ativistas, quer seja o feminismo ou a militância gay e lésbica.

O texto em questão infelizmente perpetua o tipo de pensamento que visamos combater - reproduz uma lógica binarista que presta desserviço para os esforços do ativismo trans* em despatologizar sua ID.

Primeiramente, pautado em estudos pseudocientíficos (ou talvez só a opinião própria mesmo), o autor classifica o sexo como em número de 2. Uma rápida incursão histórica problematiza essa visão (cf. Laqueur, Berenice Bento), além de que reforça a biologia como o destino – premissa falsa nas quais um conhecimento popular que se quer científico se baseia.

Ademais, pessoas intersexo não são “hermafroditas”, esse termo é muito ofensivo e rejeitado pelas organizações internacionais (cf. OII – Organization Intersex International), além de que o mito da pessoa intersexo que tem “duplicidade” já caiu por terra, pois é um mito pseudocientífico (cf. novamente os textos da OII e também Transfeminismo.com – Dez idéias falsas sobre pessoas intersexo).

Ora se as próprias pessoas – sujeitos do texto de Picazio – apontam falhas em tal discurso, porque não foram ouvidas?

Qual(is) foram os estudos de campo feitos, que ouviram pessoas travestis para que a classificação “Uma travesti tem a sua identidade dupla, ou seja, ela se sente homem e mulher ao mesmo tempo”? Porque o caráter binarista dessa afirmação não foi questionado? (cf. novamente Berenice Bento)

Novamente a “ciência” parte de premissas falsas para conferir inteligibilidade aos eventos que julga anormais, pautada em um idealismo estrutural que não se sustenta frente teorias materialistas históricas nas quais o sujeito histórico é levado em consideração.

As pesquisas que norteiam a psiquiatria, psicologia e psicanálise (os saberes psi), são pautadas em achismos impregnados com a ideologia (e idealismo) da divisão sexo/ gênero e de que tanto o sexo quanto o gênero devam permanecer em número de dois. “Talvez o sexo fosse o gênero desde o início” e o sexo seja entendido em termos pré-discursivos (cf. Butler) – daí a suposta neutralidade da ciência, pois o sexo aparece acriticamente por um saber que visa regular e reproduzir os sistemas opressores de gênero, colocando sempre a margem aquel@s que cruzam seus limites.

Nós pessoas trans* e aliad@s cis, transfeministas, não podemos aceitar a reprodução dessa visão que rege os documentos oficiais pseudocientíficos CID E DSM, os quais patologizam e diagnosticam pessoas trans, sempre em relação ao destino biológico cissexual.

Queremos ser ouvid@s e não queremos pessoas que utilizam suas posições de poder (psicólogos, psiquiatras, psicanalistas) para proferir pseudoverdades sobre nós – somos NÓS quem decidimos quem somos, como nos identificamos, quais são os limites de nossos gêneros - não aceitamos as afirmações que distorcem a identidade de gênero ( “Para entendermos a sexualidade e por uma questão didática, vamos analisá-la sobre quatro aspectos diferentes e interligados: Sexo Biológico, Identidade Sexual, Papeis Sexuais e Orientação Sexual do Desejo. Repito essa divisão é didática, pois todos os aspectos se entremeiam, formando dentro de nós aquilo que chamamos identidade de gênero.) (grifo nosso).

Quem pode falar por nós somos nós mesm@s, e não alguém que se julga no direito de capturar nossas experiências e nossa identidade.

Repudiamos esse texto, pois mais uma vez, ele só serve para reforçar valores hegemônicos, prestando desserviço para a luta transfeminista.

Esse email será publicado também em http://transfeminismo.com/.

Atenciosamente,

Transfeministas

Deixe um comentário

Arquivado em Feminismo, Interssexualidade, Trans*

Dez ideias falsas sobre pessoas intersexo

O texto a seguir foi traduzido por mim a partir de um reblog do tumblr, sendo sua fonte original a OII - Organisation Intersex International [Organização Intersexo Internacional]

Achei muito importante para desfazer muitos mitos e “verdades” pseudocientíficas que giram em torno das pessoas intersexuais. Além de essas pessoas estarem inclusive mais invisíveis que pessoas trans*.

Lembrando que pessoas intersexuais não fazem parte do guarda chuva trans* e nem da luta trans*, como se verá no próprio texto abaixo.

Porém, alguns traços de similaridade unem as lutas, pois assim como as ID’s trans*, a ID intersexual também é patologizada e sofre constantes tentativas de intervenções cirúrgicas coercivas pelas instituições reguladoras médicas que visam fazer a assepsia social de qualquer sujeito que ouse cruzar as normas do dimorfismo e de gênero.

Dez ideias falsas sobre pessoas intersexo

Por Curtis E. Hinkle, Fundador, Organização Intersexo Internacional

E Hida Viloria, Porta-voz de Direitos Humanos, Organização Intersexo Internacional

1. Intersexo significa que a pessoa possui dois genitais. (Falso)

Essa é talvez uma das ideias erradas mais comuns sobre pessoas intersexo. Intersexo frequentemente não tem nada a ver com o genital da pessoa, ainda menos então com 2 genitais. Existem pessoas intersexo com pênis e uma abertura vaginal. No entanto, não existem casos documentados de uma pessoa que tenha nascido com genital masculino e feminino completamente desenvolvidos. A vasta maioria de pessoas intersexo possui genitais que aparentam habitualmente masculino ou feminino, existindo uma pequena minoria possuindo genitais atípicos. Na verdade, o termo exótico e pseudocientífico “verdadeiro hermafrodita” (o qual se refere a uma pessoa com ovários e tecido testicular), pode referir-se a uma pessoa com genitais masculinos ou femininos completamente habituais.

2. Uma em 2000 crianças nascem intersexo. (Falso)

Essa é talvez uma das estatísticas que é mais comumente fornecida. Seria mais preciso apenas simplesmente afirmar que em hospitais com equipes de designação sexual, 1 em 2000 crianças nasce com genital que é tão atípico que o médico responsável solicita a ajuda de especialistas no time para designar um sexo. A maioria dos hospitais ao redor do mundo não possui equipes de designação sexual e a maioria das pessoas intersexo possui genitais típicos. Deve-se ter cuidado ao notar que mesmo na maioria dos nascimentos com genitais atípicos, o médico não solicita assistência de uma equipe de designação sexual, mesmo se houver uma disponível. Por isso, uma pessoa pode rapidamente verificar que esse número passa a impressão de que pessoas intersexo são muito, muito raras. não são!

Existem tantas condições intersexo diferentes, que é muito difícil fornecer uma estatística nesse momento. Uma estimativa mais precisa é fornecida por Sharon Preves, Ph.D., autora de Intersex and Identity : The Contested Self - ela pesquisou sobre intersexo bastante extensivamente. De acordo com Preves, “A frequência poderia ser tão alta quanto quatro por cento.”

3. Quando uma criança intersexo nasce não pode crescer tal como nasceu, mas “algo deve ser feito”. (Falso)

Existem poucas ocasiões em relação a quando uma variação intersexo de uma criança representa riscos de saúde que requerem atenção médica imediata. Ao contrário, pessoas intersexo, como todas as pessoas, possuem problemas de saúde. Por exemplo, ser mulher não é por si só um problema de saúde, mas existem problemas de saúde específicos às mulheres.

Na maioria dos casos nos quais não existem riscos de saúde envolvidos, nós percebemos que é mais beneficial para a criança intersexo ser permitida a crescer com o corpo intacto. Preservando a integridade de seu corpo, permite que crianças intersexo desenvolvam seu próprio senso de identidade de sexo e gênero sem o risco de haver dano irreparável na formação de sua identidade. A criança pode ser criada com uma designação de sexo provisória para homem ou mulher e depois ser dada a possibilidade de decidir por si própria, assim como é dado o mesmo direito para todos os outros humanos, se sentir que esse sexo lhe é correto no futuro, e/ou se desejar fazer qualquer alterações cirúrgicas em seu corpo para alinhá-lo com seu sentimento de eu interno. Tentar realizar essas decisões para bebês e crianças, mesmo que talvez com boas intenções, é jogar um jogo de especulações sob a vida de outra pessoa.

4. Intersexo tem a ver com homossexualidade. (Falso)

As razões ocultas para a patologização da intersexualidade e os tratamentos sugeridos, os quais são frequentemente bárbaros, são muito provavelmente resultados de homofobia. Porém não há nada em relação à intersexualidade por ela mesma que poderia levar uma pessoa a afirmar que intersexualidade e homossexualidade são as mesmas coisas, ou que estão diretamente relacionados. Existe possibilidade de haver conexão, mas as razões fisiológicas não são ainda completamente entendidas nesse momento. O que é importante entender é que muitas pessoas com condições intersexo, assim como aquelas sem tais condições, as vezes se identificam como gays ou lésbicas. Similarmente, muitos adultos intersexo consideram a questão da homossexualidade irrelevante para nossas percepções de nós mesm@s. Mais e mais pessoas intersexo estão confortáveis com uma identidade de gênero intersexo, a qual sentimos ser mais precisa em descrever como percebemos nós mesm@s. O modelo socialmente construído de erotismo oferecido por muitas culturas que dividem pessoas entre homossexuais e heterossexuais apaga nossas identidades. Até mesmo a bissexualidade perpetua a ideia de apenas dois gêneros pela utilização do prefixo “bi”, que significa “ambos”. Existem pessoas que são atraídas principalmente por pessoas andróginas, por mulheres “masculinas” ou homens “femininos”. E o mais importante de tudo, qual seria o sexo oposto de uma pessoa intersexo?

5. Disorder of Sex Development [Distúrbio de Desenvolvimento Sexual], ou DSD, é o termo preferido para intersexo. (Falso)

Tod@s @s membr@s da Organização Intersexo Internacional (OII), a maior organização intersexo do mundo, rejeitam a nomenclatura Distúrbio de Desenvolvimento Sexual (ou DSD) pela simples razão de que nós não temos nenhum distúrbio, apenas somos diferentes e recusamos a aceitar qualquer linguagem e visões médicas que nos patologizam. O fato que algumas pessoas intersexo escolhem utilizar esse termo para descrevê-las, assim como algumas pessoas homossexuais veem sua homossexualidade como uma doença a ser curada, não invalida o fato que tal nomenclatura é imprecisa e estigmatizadora para a comunidade como um todo.

6. Intersexo não tem a ver com gênero. (Falso)

Para muitas pessoas intersexo, gênero é a questão principal. Em vários países ao redor do mundo, não existem cirurgias pregressas para “tratar” corpos intersexo. Os problemas principais dessas pessoas baseiam-se principalmente em não serem capazes de se adequar em um gênero ou outro, ou crescer com um corpo incompatível com o gênero no qual foram criadas.

As mesmas teorias usadas para apoiar a mutilação de corpos intersexo ambos cirurgicamente e hormonalmente são baseadas em noções de gênero que tem se provado duvidosas. De acordo com as teorias frequentemente adotadas por seguidores do Dr. John Money, gênero não é interno ao indivíduo. Nós não temos prova disso. Mas temos uma pequena prova do contrário.

Intersexo não é apenas sobre nossos corpos, mas também sobre como percebemos nós mesm@s dentro desses corpos, e identidade de gênero é uma parte crucial da identidade de tod@s. Apagar a importância do gênero para a pessoa intersexo individual é reduzir aquela pessoa aos aspectos físicos de seu corpo, negligenciando a parte mais importante da equação, sua própria percepção de tal corpo e de si mesm@, em oposto a como outr@s o percebem.

7. Intersexo é parte do movimento transgênero. (Falso)

Não. Enquanto indivíduos que são intersexuais podem se identificar como transgênero, o oposto não é verdadeiro. A maioria das pessoas que fazem parte do movimento transgênero não é intersexual. Incluir intersexo sob o termo guarda-chuva, “transgênero”, ignora nossas necessidades especificas que são frequentemente melhorias médicas, questões legais em relação a qual gênero somos, questões de saúde relativas a corpos intersexo, e mais importante, o fato que a maioria das pessoas intersexuais não são trans. Muit@s estão perfeitamente felizes em serem homens ou mulheres e mais e mais de nós estamos felizes em sermos intergênero e percebemos a noção de trans como totalmente estranha a nossa identidade porque estamos rejeitando gênero binário por completo, e o prefixo “trans”, assim como o prefixo “bi”, mantém o binário intacto.

8. O movimento intersexo é um movimento identitário assim como outros movimentos GLBT’s. (Falso)

Não exatamente. A Organização Intersexo Internacional faz campanha por direitos humanos plenos para todas as pessoas nascidas com variações intersexo, algumas das quais não reivindicam “intersexo” como uma identidade. Nossa comunidade diversificada inclui pessoas que se identificam como homens intersexuais, mulheres intersexuais, intersexuais, homens, mulheres, ou em algumas vezes também transgênero.

9. A maioria das pessoas intersexo é designada mulher. (Falso)

Muitas condições intersexo em bebês designados homens são constantemente ignoradas e seus pais são simplesmente informados que existe algum problema em urinar adequadamente ou que um testículo não foi formado, etc. Ademais, em várias partes do mundo pessoas intersexo são designadas como homens o quanto mais possível for, porque ser homem é visto como mais socialmente desejável. Quando alguma pessoa lê sobre todas as variações de condições intersexo, percebe que uma pessoa nascida com uma condição intersexo é mais provável de ser designada como homem do que como mulher.

10. Intersexualidade é uma condição que pode ser curada. (Falso)

“Normalização” cirúrgica de corpos intersexo é uma tentativa, como eugenia, de remover diferenças as quais algumas pessoas decidiram como indesejáveis, e constantemente cria problemas que antes não existiam. Considerar as variações intersexo como condições que podem ser curadas, justifica as práticas médicas bárbara as quais somos frequentemente subjulgad@s, tais como cirurgias genitais e/ou hormônios, que podem ser contrários as nossas próprias identidades intrínsecas, e tratamentos psicológicos que não desejamos cumprir.

(Fonte original: oiiusa.org)

(Fonte tumblr: http://queerandpresentdanger.tumblr.com/post/24234818461)

[N.T. I - Os termos male/female foram traduzidos como homem/mulher em algumas frases, pois não faria sentido de outro modo, mesmo que seja verificada diferenciação em relação a man/woman em alguns outros textos que se propõem a falar sobre gênero de alguma forma. II - gender assignment foi traduzido por designação sexual, para manter o caráter médico, mesmo que gender seja um termo problemático por si só. II – Foi adicionado o @ para neutralizar marcações de gênero, as quais justamente inexistem em inglês. Em outras partes utilizei o termo "pessoa/s" para tentar neutralizar o gênero].

1 comentário

Arquivado em Uncategorized