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Violência Contra a Mulher também é Violência Discursiva

Muitas vezes (e/ou constantemente se você é um/uma leitor@ de blogs e jornais alternativos também) lemos nos jornais e blogs sobre casos de violência física contra mulheres (cis): estupros, assassinatos, espancamentos (dentro ou fora do ambiente doméstico) etc.

Muitos desses atos eu considero o ‘efeito’ ou a ‘prática’ de algo muito maior que está por trás embasando tudo isso; a ideologia machista, que como já sabemos produz efeito desumanizador da mulher garantindo assim sua subordinação como sujeito de categoria inferior na hierarquia das classes sociais. Porém para essa ideologia operar, ela irá encontrar na linguagem um lugar privilegiado para funcionar, através do que um teórico da linguística de nome Althusser chamou de Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE). Esses AIE’s, seriam o meio pelo qual (digamos, a ‘ferramenta’), a ideologia opera (não só a machista, mas a ideologia em seu sentido amplo). Os AIE’s apareceriam na forma das instituições regulatórias, como a Escola, a Igreja, a Família e eu diria a Clínica (discurso médico; biopoder), a Politica (retórica política), e o próprio Estado em si.

Na base da violência física, a violência de origem ideológica, que opera atraves de AIE’s que por sua vez utilizam-se de discursos para regular e fazer a manutenção da ideologia. Dessa forma temos então discursos violentos machistas promovendo a manutenção do patriarcado. Todo discurso é por si mesmo violento porque não existe igualdade entre os sujeitos do discurso, por exemplo entre um locutor e um interlocutor sempre um discurso exercerá uma função de dominação sob o outro, e nunca haverá neutralidade, mas sempre relação de subordinação.

Dentro desse contexto, já podemos excluir obviamente a hipótese de que o discurso jornalístico poderia ser de algum modo remotamente neutro. Já sabemos que não o é, e adota posições de acordo com os sujeitos que escrevem a matéria, o editor que edita, posição ideológica-histórica do jornal, recorte que o jornal faz para incluir determinado assunto e não outro etc.

É por isso que nesse Dia de Eliminação da Violência Contra a Mulher lutaremos também contra a violência discursiva machista. Já falei em outro post sobre alguns xingamentos machistas, mas aquilo foi apenas um pequeno recorte.

Pensemos então. Quando usarmos xingamentos machistas, apagarmos as identidades femininas, usarmos pronomes masculinos quando poderíamos ter usado também femininos, quando desconsiderarmos a opinião de uma mulher apenas por ser mulher, enfim, quando utilizarmos de machismo em nossos discursos, vamos pensar na força desses discursos. Sim, porque o discurso machista tem sua força, e também seus efeitos; seu reforço promove a violência constante que vemos no dia a dia; o silenciamento ante a violência doméstica; a falta de solidariedade para com mulheres que sofreram abusos sexuais e/ou estupros; a desconsideração das opiniões e reivindicações de uma e/ou um grupo de mulheres; a arbitrariedade e falta de consideração em que se julga o feminicídio e dão o nome de “crime passional” mascarando sua real raiz que é o machismo, etc.

Seguem abaixo alguns links sobre o Dia da Eliminação da Violência contra a Mulher:

http://blogueirasfeministas.com/2011/11/violencia-inclusao-espacos-politicos/

http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2011/11/25/dia-internacional-pela-eliminacao-da-violencia-contra-as-mulheres/

http://pimentacomlimao.wordpress.com/2011/06/09/sobre-os-feminicidios/

http://www.audaciadaschicas.com/2011/11/pelo-fim-da-violencia-contra-as.html

http://feminismo.org/2011/11/contra-toda-mostra-de-patriarcado-tolerancia-zero/

http://www.adrianatorres.com.br/viajando-na-maionese/blogagem-coletiva-fimdaviolenciacontramulher.html

http://madrid.tomalaplaza.net/2011/11/24/comunicado-25-noviembre-2011-dia-internacional-contra-las-violencias-machistas/

http://brizas.wordpress.com/2011/11/15/25-de-noviembre-dia-internacional-contra-la-violencia-de-genero/

http://pimentacomlimao.wordpress.com/2011/11/18/feministas-em-ativismo-online-pelo-fim-da-violencia-contra-a-mulher-ii/

http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=21823:o-machismo-nos-espacos-politicos-da-esquerda-socialista-brasileira&catid=315:a-segunda-luta&Itemid=21

EDIT:

Mais postagens:

http://foifeitopraisso.blogspot.com/2011/11/sorte-sua-que-e-perseguida-por-um.html

http://www.rubensjardim.com/blog.php?idb=29665

http://colunaecletica.wordpress.com/2011/11/25/voce-faz-a-sua-parte/

http://cynthiasemiramis.org/2011/11/25/seguranca-publica-politicas-publicas-e-violencia-contra-mulheres/

http://mayroses.wordpress.com/2011/11/25/mulheres-indigenas-violencia-opressao-e-resistencia/

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Fixed.

Frente lança marcha em defesa do Estatuto do Nascituro da Retirada da Autonomia de Escolha da Mulher

A Frente Parlamentar Mista em Defesa da Vida do fundamentalismo cristão promove hoje o ato de lançamento da 4ª Marcha Nacional da Cidadania pela Vida. pelo Obscurantismo Fundamentalista Sexista contra a Vida das Mulheres

Arte/Agência Câmara

O estatuto define ignorando a literatura científica e a autonomia de escolha da mulher que a vida começa na concepção.

Organizada pelo Movimento Nacional da Cidadania pela Vida pelo Obscurantismo Fundamentalista Sexista contra a Vida das Mulheres - Brasil sem Aborto, a marcha será realizada em 31 de agosto, na Esplanada dos Ministérios, saindo do Museu Nacional. Os organizadores pretendem entregar ao presidente da Câmara, Marco Maia, um abaixo-assinado com 50 mil assinaturas em apoio à proposta do Estatuto do Nascituro da Retirada da Autonomia de Escolha da Mulher (PL 478/07). Nascituro é o ser humano concebido, mas ainda não nascido, mas que ainda assim é considerado cidadão ao contrário das mulheres que são consideradas sub-cidadãs.

Novamente desconsiderando a escolha da mulher e a literatura cientifica, a proposta define que a vida começa na concepção. O objetivo é não garantir ao nascituro à mulher o direito à vida, à saúde, à honra, à integridade física, à alimentação e à convivência familiar. A marcha defende o substitutivo da relatora do estatuto na Comissão de Seguridade Social e Família, deputada Solange Almeida (PMDB-RJ).

O substitutivo não altera o artigo 128 do Código Penal, que autoriza o aborto praticado por médico nos casos de estupro e de risco de vida para a mãe, mas que vai dificultar em casos do tipo. Em caso de estupro, o substitutivo prevê assistência pré-natal, com acompanhamento psicológico para a mãe, e o direito de ser encaminhado à adoção, caso a mãe concorde. Identificado o genitor do nascituro ou da criança já nascida, este será responsável por pensão alimentícia e, caso ele não seja identificado, o Estado será responsável pela pensão ele será preso por ter estuprado uma mulher.

Ao nascituro com deficiência, o projeto garante todos os métodos terapêuticos e profiláticos existentes para reparar ou minimizar sua deficiência, haja ou não expectativa de sobrevida extrauterina.

O projeto original proibia a manipulação, o congelamento, o descarte e o comércio de embriões humanos, com o único fim de serem suas células transplantadas para adultos doentes - práticas consideradas “atrocidades” pelos autores da proposta. O substitutivo retirou essa proibição.

A proposta foi aprovada pela Comissão de Seguridade Social e Família, na forma do substitutivo de Solange Almeida, e ainda precisa ser votada pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois, seguirá para o Plenário.

(http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/DIREITOS-HUMANOS/201464-FRENTE-LANCA-MARCHA-EM-DEFESA-DO-ESTATUTO-DO-NASCITURO.html)

Fixed. =)


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Novamente sobre discursos– O quadro do Zorra Total e a “ingenuidade” dos ativistas de esquerda

As últimas discussões via twitter entre ativistas de DH ditos de esquerda e feministas revelaram-se uma fonte de observação muito interessante de discursos machistas – os quais estes ativistas juram nunca terem proferido.

Já expliquei amplamente na postagem anterior o porquê da ilusão do ativista imune aos preconceitos, (e com efeito, qualquer outra pessoa que não se diga ativista de DH). No entanto, parece-me que os blogueiros ativistas ou são ingênuos ou de fato não conseguem enxergar além de seus privilégios.

Não obstante acuradas reflexões sobre política, denunciando as estratégias ideológicas de políticos e partidos de direita (e de esquerda) ou do PiG, quando chegamos à questão machista se fazem de ingênuos, e todo aqueles discursos para desconstruir a ideologia da direita desaparece frente ao reducionismo do “exagero”. Idelber Avelar discutiu a respeito bastante sabiamente à época do episódio Nassif.

Por que ao criticar as práticas e discursos da direita e do PiG mostram-se bastante precisos e munidos de ferramentas, mas em relação aos discursos machistas são tomados de uma cegueira ingênua?

Como sempre, parece que a luta das mulheres e o feminismo revela-se para estes senhores, algo menor e exagerado: não é exagero criticar o PiG quando este se põe a atacar o MST em suas manchetes ao usar termos como “invasão” em vez de “ocupação”, mas certamente é exagero quando aponta-se um programa do PiG que se revela sexista.

Darei os pingos nos ís. Jean Wyllys em seu twitter, quando questionado sobre a nocividade do programa Zorra Total, no quadro “Metrô Zorra Total” – o qual não irei discutir aqui, posto que a Lola e a Secretaria Nacional de Mulheres do PSTU já discutiram ampla e precisamente o quadro – entendeu que havia misoginia mas não achou nocivo a ‘nível’ de Rafinha Bastos.

Para mim o quadro é bastante ofensivo e nocivo, mas o ponto não foi Jean Wyllys, e sim os ativistas da minha TL achando que o reclame do quadro era exagero, que era ‘humor negro’, que o ‘politicamente correto’ já cansou (qualquer similaridade com argumentos da direita é mera coincidência) etc.

Com efeito, decorre daí que o quadro não está sujeito a nenhuma análise mais objetiva desses ativistas, que apenas preferem tachar como ‘humor negro’ e que seria “exagero” reclamar dos mesmos, e logo apelam-se para os argumentos da ‘patrulha’ (novamente, qualquer similaridade com argumentos da direita é mera coincidência). No entanto não é patrulha nem exagero criticar veementemente quem é a favor de Belo Monte, nem do ridículo PNBL, e Ai5 digital.

Um dos argumento que utilizaram - vale a pena reproduzir aqui pelo seu absurdo ao meu ver – é que o quadro representaria um “humor crítico”, e fizeram referência à extinta TV Pirata e trapalhões. Ora nunca ouvi tamanho absurdo. Para aqueles que esqueceram, vale a pena relembrar que a TV em sua atual configuração tem um, e apenas um único objetivo: obter audiência para ter mais anunciantes. Com efeito, não há coerência em exigir da globo, por exemplo, qualquer defesa de DH, uma vez que seu objetivo é obter capital, e seria mais pertinente criticar a televisão como o todo em sua configuração capitalista, como aponta Fabiano Camilo aqui.

Dessa forma, não há remotamente para a Globo o interesse ou objetivo de usar o humor como crítica, seus interesses são os do capital que por sua vez prefere manter o status quo através da ideologia.

É cabível encerrar aqui com a questão da ideologia. Para aqueles ativistas que acham que @s feministas “chilicam” por coisas menores, exageradas, talvez pensem que estas tiraram seus argumentos da cartola, exprimindo algum sentimento “histérico” e “agressivo” (como eles gostam de chamar). Talvez fosse bastante proveitoso que essas pessoas fossem lembradas que é a Línguística a disciplina que se dispôs a analisar a língua, linguagem e suas utilizações e implicações. Por isso, poderíamos seguramente recorrer à Análise do Discurso e à Semântica da Enunciação (ou Argumentativa), por ex. para nos munirmos de um arcabouço teórico que suportaria todas essas análises “exageradas” e ainda que essa fonte se esgotasse poderíamos recorrer às Semióticas. Para citar alguns exemplos de teóricos que contribuíram para esse mesmo arcabouço teórico, temos Lacan, Pêcheux, Foucault, Maingueneau, Bakhtin entre outr@s.

Por isso, blogueiros de esquerda, não sejam tão rápidos em tachar todas as reclamações feministas como “exageradas”, pois não estamos falando arbitrariamente. Feministas não querem “causar”, estamos constantemente sendo bombardeadas pela mídia e pelos discursos conservadores da direita, e quando vamos aos blogs de esquerda, pensando estarmos ‘seguras’ em algum tipo de ‘refúgio’ ainda temos que lidar com as ‘ervas daninhas’ machistas que eventualmente surgem. É bastante frustrante, para não dizer desestimulante.

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Sobre alguns xingamentos, expressões, machismo e discursos

Recentemente, houve uma discussão da qual eu “participei” (note as aspas) via twitter e nos comentários de um blog.

Estou fazendo esse post porque conversando com um colega via twitter, surgiram-me questões que eu acho que deveriam ser colocadas aqui.

Bom, quando eu digo “tal coisa é baiana” “vai tomar no cu”, “aquela vadia”, estou sendo preconceituoso?

Ateus falarem “ai meu deus” nega suas ‘IDs ateístas’?

Começando pelo fato de que, seu discurso não é seu, ele também é de outras pessoas que mantém traços similares ideológicos discursivos e principalmente, ele não é seu porque existem aquelas vozes que são anteriores a sua formação como sujeito, vozes que produzem e reproduzem diversos discursos, aos quais você assimila, julga e reproduz.

Não existe nenhum discurso que seja destituído de parcialidade, em termos estritos não existe discurso imparcial, porque o próprio discurso é uma ‘parcialidade’. Quando eu discurso eu estou reproduzindo aquelas ‘vozes’ que vieram antes de mim e que eu ajudo a manter justamente através de sua reprodução. Essas vozes são os discursos das instituições que te formaram e que construíram seu subjetivo pelo poder da ideologia (ver Aparelhos ideológicos de Estado, do Althusser). Então, o discurso do pai/patriarcado, o da família, da escola, da igreja, são todos discursos ‘pré-dados’, assimilados por você e reproduzidos por você, e por isso o discurso nunca é só seu nem meu.

Dada a ilusão da neutralidade das palavras, dos textos, dos enunciados, ou seja dos discursos, as pessoas comumente acham que, por exemplo, mesmo não sendo religiosas ou mesmo sendo pessoas ateias, falar “ai meu deus” não tem conotação religiosa, e costumam evocar o argumento da ‘automatização “natural” de expressões que perdem seu significado inicial por serem exaustivamente repetidas fora de seu “contexto original”’, ou o argumento da intencionalidade que vem geralmente junto com o da semântica “eu não acredito nisso, não usei nesse sentido” e evocam a semântica, apenas para fazer uma análise reducionista de sentido.

Usei o exemplo com pessoas não religiosas ou ateias, mas acontece da mesma forma com pessoas que se intitulam como pertencente a um determinado grupo de identificação.

De fato, quando uma pessoa que se considera não religiosa (ou ateia) usa expressões como “ai meu deus”, “jesus” “misericórdia” etc. não implica ‘inverdade’ de sua posição ideária em relação a religião, ou seja, não significa que essa pessoa esteja mentindo, alias essa noção de ‘mentira’ e de apontar que alguém é ‘incoerente’ em termos de suas posições ideárias é bastante problemática na medida em que eu não tenho autonomia para dizer o que você ‘é’ ou deixa de ser, em que você acredita ou não, pois quando eu faço isso eu quero desmentir seu discurso, desmentir seu ideário ao apontar que você não ‘verdadeiramente’ o segue, e eu não poderia nunca fazer tais afirmações.

É claro que podemos traçar incoerências no discurso, e é com o discurso que vamos ‘trabalhar’ e não com a pessoa, muito embora sujeito e discurso não possam ser separados, o sujeito não tem controle de seus discursos, e é por isso que esses são os mais interessantes, pois revelam aquelas vozes ditas anteriormente, por mais que este sujeito queira esconder ou tente manipular é impossível, pois quando enunciamos/discursamos estamos exprimindo nossa subjetividade sem querer e ai não há controle algum.

Voltando nas expressões, como afirmado, não é o caso de dizer que uma pessoa não religiosa ou ateia esteja ‘traindo’ seus ideários quando evoca as tais expressões do dia-a-dia, porém, partindo do ponto que elas se automatizaram (nas sociedade cristãs), isso significa apenas uma estratégia da ideologia de se ‘embutir’ no discurso sem ser percebida. Essa automação que muitas vezes parte despercebida não é nada menos que o discurso cristão, tão ‘cravado’, tão intrínseco em nós que chega no ponto em que não percebemos que o estamos evocando, pois mesmo que o sujeito não tenha a intenção, ou seja não evocou a expressão para usa-la em seu contexto religioso, o discurso É o discurso da religião se reproduzindo, pois o sujeito não tem controle dessa ‘intenção’, e assim o discurso da religião cristã se reproduz e se reproduz eternamente. tanto isso é verdade que se a intenção fosse o critério máximo de controle do discurso, poderíamos ter resignificado ou mesmo a expressão teria morrido.

 

Isso vale para xingamento também. por exemplo, por que ofendemos alguém com expressões ‘vai tomar no cú’? por que a prática do sexo anal se tornou um xingamento? ora, se fosse algo ‘ruim’, ninguém faria, e eu não preciso evocar aqui dados para saber que pessoas sentem prazer com tal ato, e inclusive eu me lembro que no meu ensino médio, cansada de ouvir esse xingamento como coisa ruim, para responder a quem o utilizava comigo eu retrucava “é pois é, eu bem que queria tomar no cu, arranja alguém pra me comer ok?”, pois a lógica do xingamento como sendo ofensivo só é ofensivo se você ligar ou que o ato é sujo/feio/imoral e que infelizmente sempre ligam também à homossexualidade masculina. Não é incomum associarem o ato do sexo anal com homossexualidade masculina, como se 1) mulheres não sentissem prazer nessa região 2) o ânus tivesse um recadinho dizendo que se for utilizado você vira gay 3) como se sexo gay fosse só penetração 4) como se sexo no geral fosse só penetração, como se o corpo todo não fosse zonas erógenas em potencial bastando apenas cada um se descobrir. Nem atentando ao fato que essas concepções de penetração no sexo gay são reproduções do modelo heteronormativo de sexo, é bastante ridículo se ater a tais pensamentos.

Quanto a polêmica de expressões como ‘vadia’, ‘vagabunda’, ‘puta’ e afins, tem caráter essencialmente machista, pois 1) seus ‘pares’ masculinos não tem a mesma conotação: ex. vadia = mulher imoral, puta / vadio = homem que não trabalha, folgado desempregado. Vagabunda é bem similar e puta = mulher imoral, prostituta / puto = homem muito irritado.

E tem vários outros exemplos como ‘homem da vida’ / ‘mulher da vida’, ‘aventureiro’ / ‘aventureira’ etc. Por que a mesma palavras tem conotações diferentes para homem e para mulher? Por que o xingamento para a mulher se alicerça na noção da moral, pois uma mulher puta e ‘rodada’ é também pior e mais imoral, passível de condenação e desprezo? E por que justamente quando em uma discussão quando se quer xingar alguma mulher geralmente apelam para tais xingamentos? Ora, justamente na tentativa de desmoralizar a mulher, a inferiorizar e julgar segundo preceitos morais.

Faça um pequeno flashback e veja quantas vezes você ouviu alguém xingando um homem de vadio, puto, prostituto, vagabundo e quantas vezes você ouviu o mesmo xingamento para mulheres. Não existe hegemonicamente julgamento moral sexual para o homem, pois por default este já tem que ser sexualmente ativo e ‘pegar geral’, e a mulher tem que ser recatada e virgem imaculada. E voltando no xingamento do ‘vai tomar no cú’ além de ser homofóbico como já dito, venho aqui lembrar que também é sexista, a medida que um homem é ‘menos homem’ se for gay, e na lógica no binário se você é ‘menos homem’ logo você é ‘mais mulher’, e isso também é ruim, degradante, afinal, porque eu vou ‘descer’ na escala social me assemelhando com o ‘feminino’? Para além da discussão que ‘feminino’ e ‘masculino’ renderiam uma série de posts por serem conceitos problemáticos, podemos ver que o machismo afeta a tod@s, homens, mulheres e outr@s, por estipular quais comportamento(s) são mais ou menos passiveis de julgamento, mais ou menos aceitáveis, ou mais ou menos veneráveis.

Pois bem, voltando no argumento da reprodução do discurso, sim, se eu xingo uma mulher de vadia, estou evocando todo esse discurso moral-machista, mesmo que eu mesm@ não me considere machista, ou mesmo feminista. Ninguém está livre das ideologias hegemônicas, pois são séculos e séculos de reprodução do mesmo discurso, que apenas se reconfigura para agir de outro modo. Assim como criticamos quem fala “eu não sou preconceituoso, mas…” porque sabemos que depois do “mas”certamente virá um discurso que irá contradize-lo, não podemos nos iludir achando que somos livres dos preconceitos. O primeiro passo é assumir. Desçamos de nossos pedestais do ativismo e dos defensores dos direitos humanos e ponderemos sobre nossos preconceitos. Somos sim racistas, sexistas, homofóbicos, em maior ou menor nível. Obviamente não se está a afirmar aqui que tudo bem ter esses preconceitos, pelo contrário, assumir é o primeiro passo para tentar nos livrar deles, e a luta meus amigos não é de alguns anos, a luta é na vida toda, pois somos bombardeados com os discursos hegemônico todos os dias, ainda os velados que tentam disfarçar seus preconceitos com elementos de ‘direitos humanos’ (vide Reinaldo Azevedo por ex.), e por isso a luta de combater nossos preconceitos é durante toda a vida.

Assim, querid@s, todos esse xingamentos, essas expressões, mesmo que não-intencionais, reproduzem sim discursos hegemônicos, e se nossa tarefa é combate-los, temos que perceber sua estratégia de se ‘embutir’ em nossos discursos como se fossem neutros.’

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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APOLGBT virou as costas para @s Feministas.

Na 15ª Parada do Orgulho LGBT, a militância (a APOLGBT) homenageou Marcelo Tas.

Não é novidade na blogosfera os últimos acontecimentos envolvendo Tas, o CQC, o Rafinha Bastos e a comunidade feminista, que tem motivos suficientes para repudiarem o CQC após as declarações misóginas em relação à amamentação, a absurda piada de estupro do Bastos e como eles lidaram com as reclamações do ocorrido.

Sério, APOLGBT? Como assim, a militância dando as costas para @s Feministas, que nunca perderam a oportunidade de militar a favor das causas LGBT?

Que maravilhoso foi a MarchaDaLiberdade, ao vermos vários grupos discriminados abraçando as causas de outros, todos unidos em prol da liberdade; @s Feministas, Maconheir@s, Ciclistas, LGBT’s, Ambientalistas, Movimento Negro, etc. Todos juntos, unidos. Porque juntos somos fortes!

Por favor, temos que nos articular e não nos agredir. Ao homenagear Tas, a APOLGBT está dizendo que não se importa com as ofensas que @s Feministas sofreram. (na verdade, com as ofensas que todas as mulheres sofreram).

Hoje mesmo, com a polêmica da Myriam Rios, o que mais vi no Twitter, foi gente usando argumentos sexistas para desbancar Rios. Com tom de acusações moralistas, acusavam Rios de “puta”, destacando que ela havia posado nua, etc.

Myriam Rios foi escrota porque ela é ignorante, e não porque posou nua, ou por ser ‘puta’.

E isso pouco tempo depois da MarchaDasVadias, temos esse backlash vindo d@s LGBTs.

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