Em memória de Avril
Em dezembro deste ano, a jovem transgênera francesa de 17 anos Avril se suicidou depois de ser constangida e impedida de usar saias na escola. A direção da escola cinicamente nega qualquer responsabilidade no ocorrido. Hipócritas, são sim responsáveis. Vale lembrar que Avril foi expulsa de casa pelos pais e morava num abrigo. Numa situação dessas, humilhar uma jovem trans de 17 anos pela escolha de suas roupas é sim a gota d’água que culmina na percepção de que a sua vida é inviável.
Se uma escola não tem políticas explicitamente trans-inclusivas ela coaduna com a nossa expulsão e todo o agravamento de nossa saúde mental. Aliás, quando você lê apenas as notícias tem uma impressão, mas quando você ouve o áudio da diretora discutindo com a Avril, você tem outra impressão bem diferente.
No escrito, dão a entender que a diretora é quase condescendente com Avril, alegando que ela a compreenderia mas que apenas ressalva que “nem todas as pessoas estão preparadas”. Quando você ouve o áudio, dá pra perceber na verdade que a diretora está gritando com ela, dando uma bronca de maneira extremamente agressiva. Você percebe a voz embargada de Avril, prestes a chorar.
Agora, vamos supor que ela não tivesse se suicidado. Teríamos a impressão que nada teria acontecido. Mas isso é falso. É justo uma pessoa trans jovem ter que lidar com tamanho sofrimento e humilhação? É triste pensar que as pessoas só passam a tomar percepção de uma violência em função do fato dela ter se suicidado. Mas seria igualmente violento esse silêncio. E ainda por cima, depois do suicídio, negam a responsabilidade da escola, dizendo cinicamente que não dá pra determinar o que leva uma pessoa ao suicídio. Negam o reconhecimento da identidade, desrespeitam seu nome e gênero mesmo depois de morta. Hipócritas, são sim culpados.
É necessário lembrar de casos como esse, para que a violência que está por trás deles não se repita nem se naturalize. É preciso lembrar de Avril toda vez que outra direção de escola se recusar a reconhecer a identidade de um aluno trans. Vamos apontar com todos os dedos e dizer que sim, vocês são culpados.