GERAL PENSA QUE SOU PUTA
Texto de Nosly Mel.
Mesmo que eu tente, ao longo da minha existência, mostrar que trabalho duro e não “no duro”, sempre deparo com propostas: “quanto vc cobra? ou “onde vc atende”. Quando vou à baladas sempre aparece um boy desavisado querendo me pagar pra me levar pra cama. Assim como todo mundo, eu gosto de receber cantadas, mas qd essa, logo de cara, me qualifica como mercadoria, é ridículo, principalmente qd vc fica a fim do cara, corta o “barato”.
Já aconteceu de uma mulher cis amiga minha, chegar discretamente e pedir pra eu não atacar seu marido, pq ela morria de ciúmes dele. Acho que para ela eu estou sempre disposta a transar, aceito qualquer um e por um pouco de sexo não respeito ninguém. Já aconteceu também de colegas de trabalho, que convive profissionalmente comigo 12hs por dia e mesmo sabendo que faço faculdade de pedagogia a noite, ainda me perguntam onde “faço o ponto”. Acontece também de amigas mulheres cis me pedirem dicas de sexo para segurar homem, como se eu fosse uma “expert” no assunto ( em minha longa vida jurássica só tive 2 relacionamentos sérios e nunca me casei, nem poderia ajudá-la kk e para elas eu tenho decorado na minha mente todas as posições sexuais do Kama Sutra). Dá até vontade rir, mas é de doer.
Acredito que isso se deva ao fato, de que no Brasil a maior parte do segmento TRANS estejam nas ruas se prostituindo e que quando aparecem na mídia, estão envolvidas em escândalos e baixarias (cidade alerta, casos de família, Ratinho e outros programas que exploram o pior do ser humano pra obter audiência). Isso contribui decisivamente pra imagem que a sociedade tem de nós.
Recentemente procuramos setores da mídia aqui em Dourados MS e propomos matérias positivas sobres nós travestis, com intenção de mudar nossa imagem, oferecemos à esses programas, matérias pautadas em trans que trabalham fora da prostituição, pessoas que apesar do preconceito, venceram em áreas como: Nutrição, Enfermagem e Pedagogia. E a resposta porém foram: “no momento não estamos interessados”. Talvez o interesse deles é o de perpetuar o preconceito e a transfobia através da baixaria que gera polêmica.
GOSTARIA DE DEIXAR CLARO QUE NADA TENHO CONTRA A PROSTITUIÇÃO, qd ela é feita por opção., que não é o caso da maioria das trans que exercem o “metier” pela falta de acesso ao mercado de trabalho. De qualquer forma não desejo essa profissão a ninguém, devido ao mundo cão que ela encerra e os efeitos psicológicos devastadores que ela causa em quem se submete, mas como na vida cada um faz o melhor que pode e não o que sabe fazer, NÃO JULGO NINGUÉM, ASSIM COMO NÃO QUERO SER JULGADA OU QUE SE APROXIMEM DE MIM COM A INTENÇAO DE ME COMPRAR
Imagens: cedidas pela autora. Na imagem de destaque, oficina ministrada por Nosly sobre transfobia e cidadania lgbt na EE José Pereira Lins. Nosly Mel trabalha como recepcionista e monitora de pátio.