Por que nós transexuais detestamos radfem?
Por Francine Maihub Al Assad.
Por que nós transexuais detestamos radfem?
Hoje eu vou explicar o porquê de nós transexuais rechaçarmos o radfem.
Muitas pessoas nos fazem várias indagações a respeito.
- Ah mas por que vocês são contra o radfem?
- Vocês não acham que um mundo sem gênero não é melhor pra todos, inclusive pros trans?
Bom, eu acredito que esse texto vai ficar grande, mas eu não estou preocupada com isso, se você quer ler um texto curto sobre o radfem é melhor procurar outras fontes. Esse texto vai ficar grande, não tem nem como não ficar.
Ok! Sabemos que a ideologia radfem está fundamentada no pensamento das autoras rads, como a Ti-Grace Atkinson, Phylis Chester, Andrea Dworkin, Shulamith Firestone, Germaine Greer, Sheila Jeffreys, etc.
Existem divergências entre as radfems em tópicos específicos, como a pornografia, etc. A Ellen Willis por exemplo era radfem e pró-pornografia, enquanto Andrea Dworkin e Catherine McKinnon eram críticas da indústria pornográfica e da pornografia.
Mas a base do pensamento radfem são a filosofia proposta pelas próprias autoras Radfems.
- Mas aí qual o problema do radfem?
Ocorre que a maioria das autoras radfems escreveram coisas transfóbicas sobre transgêneros.
Obs.: Não se preocupe que hoje não vou falar da Aline Rossi, Eloisa Samy, Bianca Chiesa e nem da radfem fulana de tal.
Eu vou falar da matrix do movimento que são as pensadoras radfems, vou analisar o que elas pensam sobre transgêneros.
O que disse a Janice Raymond sobre transgêneros?
No livro “The Transsexual Empire: The Making of the She-Male“, na página 104, ela diz:
Todos os transexuais estupram os corpos das mulheres (Janice Raymond).
Peraí parou tudo!
Nós transexuais estupramos os corpos das mulheres? Heim?
Que porra é essa?
- Ain mas quando a Janice Raymond disse “estupro” ela quis dizer outra coisa!
Ok beleza, vamos trocar aqui, vamos supor que não seja literalmente “estupro” que ela quis dizer. Vamos pôr no lugar de “estupram” a expressão “transexuais comem batata ruffles” (vamos pensar em qualquer besteira).
Todos os transexuais comem batata ruffles das mulheres, reduzindo a forma feminina real a um artefato, apropriando-se desse corpo por si mesmos. Os transexuais simplesmente retiram os meios mais óbvios para invadir os espaços das mulheres, para que não pareçam invasivos (Janice Raymond).
O contexto da frase é que a Janice Raymond diz que nós transexuais estupramos os corpos das mulheres, reduzimos a feminilidade a artefato e nos apropriamos de um corpo que não nos pertence. E “cortamos” o genital pra invadir o espaço das mulheres para que não pareça invasivo.
Eu não sei de você o que pensa. Mas pra mim isso aqui é um lixo!
Não dá pra levar essa bosta de vertente a sério.
- Ain mas isso é um caso isolado. As outras autoras radfems só falam de abolição de gênero!
Não! As outras autoras rad também escreveram coisas absurdas.
A autora radfem Mary Daly se referiu a transexuais como “Monstro Frankenstein” no livro “Gyn/Ecology”.
Hoje o fenômeno Frankenstein é onipresente na tecnologia falocêntrica. O transexualismo é um exemplo de procedimento cirúrgico masculino que invade o mundo feminino com substitutos (Mary Daly).
Comparar transexuais com Frankenstein, um ser mitológico construído com pedaços de cadáveres humanos.
Dispensa comentários né? Vale lembrar que Mary Daly foi orientadora de Janice Raymond durante a escrita de “The Transsexual Empire”.
Continuando:
Quando a revista glamour nomeou a transexual Caitlyn Jenner como uma das mulheres do ano, Germeine Greer falou:
Só porque você cortou seu pau e depois usa um vestido, não faz de você uma mulher. Se eu pedir para o meu médico que me dê orelhas longas e manchas e vestir um casaco marrom, isso não me fará um cocker (Germaine Greer).
Essa citação aqui nem tem muito que comentar. É foda mesmo.
Continuando:
Na obra “The female eunuch” Germaine Greer diz:
Os governos que consistem de pouquíssimas mulheres correram para reconhecer como mulheres homens que acreditam que são mulheres e se castraram para prová-lo, porque eles veem mulheres não como um outro sexo, mas como um não-sexo. Nenhuma mudança de sexo já implorou por um transplante de útero e ovário. Se o transplante de útero e ovários fossem obrigatórios para aspirantes de mulheres, eles desapareciam durante a noite (Germeine Greer).
Aqui a Germaine Greer diz que “governos masculinos” reconheceram mulheres trans como mulheres porque não veem mulheres como outro sexo, mas como um “não-sexo” e que nós transexuais nos “castramos pra provar que somos mulheres”.
Ou seja: Mais lixo radfem
E ela diz que “nenhuma mudança de sexo já implorou por um transplante de útero” MENTIRA!
A Lili Elbe do filme “A garota dinamarquesa” morreu justamente tentando fazer um transplante de útero.
Eu não tenho um problema com os homens descartando seus órgãos genitais, mas isso não os torna mulheres, da mesma maneira que enfiar um pedaço de mangueira de vácuo no seu 501 (jeans) não faz de você um homem (Julie Bindel).
“Homens descartando seus genitais” e “enfiar um pedaço de mangueira debaixo do jeans”.
Cara, como que alguém se diz “progressista” apoia um troço desses?
Robin Morgan em 1973 proferiu o discurso de abertura na conferência lésbica da costa oeste na qual criticou a ativista transexual Beth Elliot de “homem transexual” e a chamou de “oportunista infiltrado com a mentalidade de estuprador”:
Eu não chamarei um homem de “ela”; trinta e dois anos de sofrimento nesta sociedade androcêntrica e de sobrevivência me valeram o título de “mulher”; alguém anda na rua como um travesti masculino, cinco minutos sendo assediado (dos quais ele pode gostar), e então ele se atreve, ele se atreve a pensar que entende a nossa dor? Não, pelos nomes das nossas mães e dos nossos próprios nomes, não devemos chamá-lo de irmã. Eu o acuso de oportunista, infiltrador e destruidor com a mentalidade de um estuprador. E vocês mulheres desta conferência sabem quem ele é (Robin Morgan).
Chamar uma transexual de “oportunista, infiltrador e destruidor com a mentalidade de estuprador”.
Meu deus cara, isso é um lixo, isso não tem nada que preste.
A Sheila Jeffreys é uma autora radfem bem conhecida, ela é autora do livro “Gender Hurts” um livro em que ela fala dos papéis de gênero e é claro que ele contém passagens transfóbicas.
Em 1997 num artigo no journal of lesbian studies, Sheila Jeffreys argumentou que o “transexualismo deve ser visto como uma violação de direitos humanos”:
A cirurgia transexual poderia ser associada à psiquiatria política na União Soviética. Sugiro que o transexualismo deve ser melhor visto sob essa luz, como um abuso médico, diretamente político, aos direitos humanos. A mutilação de corpos saudáveis e a sujeição de tais corpos a tratamento contínuo, perigoso e ameaçador à vida violam os direitos dessas pessoas de viver com dignidade no corpo em que nasceram, o que Janice Raymond se refere como seus corpos “nativos” (Sheila Jeffreys).
Essa citação da Sheila Jeffreys é outra pérola clássica das radfems, chamar a cirurgia transgênero de “mutilação”.
Sheila Jeffreys sobre pronomes femininos:
Como feminista, considero o pronome feminino como um honorífico, um termo que transmite o respeito. O respeito é dado às mulheres como membros de uma casta sexual que sobreviveram à subordinação e merecem ser endereçada com honra. Os homens (mulheres trans) não podem ocupar tal posição (Sheila Jeffreys).
Mais uma vez, transfobia por parte das radfem.
Se radfem diz “mulheres trans não merecem ser referenciadas com pronomes femininos” então esquece cara. Isso não é um movimento defensor da dignidade trans.
Em 2014, a radfem Sheila Jeffreys comparou mulheres trans com blackface (brancos que se pintam de negros):
Nos Estados Unidos, por exemplo, eles (mulheres trans) eram frequentemente comparados aos menestréis preto e branco. Os menestréis negros e brancos eram homens brancos que se vestiam com os rostos negros para imitar o que pensavam ser o comportamento de cantores e artista negros. Isso foi visto como insultuoso pela comunidade negra (Sheila Jeffreys).
- Ain Francine tu está inventando isso?
Tô é? Vai lá no google pesquisar e vamos ver se eu estou inventando.
Continuando:
Então eu acho muito fascinante é que há uma conexão entre o governo alegre de Tony Blair e sua lei de reconhecimento de gênero e o Irã. Eles amam o transgerismo porque ajuda a livrar desse grave problema da homossexualidade e reforça o gênero (Sheila Jeffreys).
Essa citação foi quando o ex primeiro ministro do Reino Unido, Tony Blair, aprovou a lei de identidade de gênero no Reino Unido em 2004 e Sheila Jeffreys disse que “o governo alegre do Tony Blair ama o transgerismo porque reforça o gênero e ajuda a livrar do problema da homossexualidade”.
Sheila Jeffreys parece esquecer que o governo do Tony Blair ficou conhecido como o governo que deu direitos aos homossexuais e às mulheres, aprovou inclusive a lei de parceria civil para casais homossexuais.
Continuando:
Uma das coisas que acho fascinante é que quando olho para o debate da câmara dos lordes sobre esta legislação, aqueles com os quais eu mais concordo são da direita radical. Particularmente a pessoa que eu acho que concordo e eu não tenho certeza se ele ficará satisfeito em se deparar com isso, é Norman Tebbitt. Tebbit também diz que a mutilação selvagem do transgenerismo, nós diríamos assim se isso acontecesse em outras culturas para além da cultura da Grã Bretanha, é uma prática cultural prejudicial, e como nós chegamos ao ponto de não reconhecer isso nas ilhas Britânicas? Então ele faz todos esses argumentos da direita radical, e que é bastante embaraçoso para mim, mas deve dizer que as pessoas chamadas progressistas e a esquerda não estão reconhecendo as violações de direitos humanos do transgenerismo ou quão louca é a legislação (Sheila Jeffrey).
Aqui a Sheila Jeffreys deixa bem claro que concorda mais com o político da direita radical Norman tebbitt quando diz que “transgenerismo é mutilação selvagem”, enquanto a esquerda progressista não está “reconhecendo os problemas do transgerismo”.
Quem foi o Norman Tebbit? Simplesmente um político conservador de direita que foi conselheiro do governo da Margareth Thatcher.
Em março de 2018, dirigindo-se a uma audiência na câmara dos comuns em uma apresentação intitulada “transgênero e o assalto ao feminismo”, Sheila Jeffreys se referiu às mulheres trans como “ocupando parasitariamente os corpos das mulheres“:
Quando os homens afirmam ser mulheres e ocupam parasitariamente os corpos dos oprimidos, eles falam pelos oprimidos.
A Sheila Jeffreys afirmou que o “transgenerismo ” está na moda e que um “fetiche sexual se transformou em um movimento de direitos”.
Então o que podemos concluir com o pensamento das autoras radfems?
Por que eu mostrei essas citações das autoras radfems?
Nós vimos que radfem compara transexuais com o Frankestein.
Nós vimos que radfem chama a ativista trans de “travesti masculino com a mentalidade de estuprador”.
Nós vimos que radfem diz que “mulheres trans são como o black face”.
Um movimento que se diz “feminista” e pensa dessa forma, pra mim sinceramente não merece respeito nenhum.
Qual a conclusão que eu tiro disso?
Um movimento que diz “transgenerismo transformou fetiche sexual em direitos civis”.
Sinceramente esse movimento não presta, esse movimento é um lixo.
Um movimento que chama mulheres trans de “black face” ou chama uma ativista trans de “oportunista infiltrado com mentalidade de estuprador”.
Esquece meu, esse movimento pra mim está fora, esse movimento não veio trazer nada de benéfico.
Eu como ativista trans não ser chamada de “Frankenstein, mutilado ou mentalidade de estuprador”.
Eu quero viver em paz e ser respeitada como eu sou.
Só uma pessoa idiota vai gostar de ser chamada de “mutilada”, “Frankenstein” ou “fetiche sexual”.
Se é trans e defende radfem, boa sorte minha filha e seja feliz.
Você tem que é mais que se fuder mesmo, vai lá na marcha feminista radical dar sua bunda pras radfem em nome da “abolição de gênero”.
Eu não, eu quero nem saber desse movimento, esse movimento não tem nada que preste.
Ok gente!
Eu espero que tenham compreendido o que eu quis dizer.
Porque eu e a maioria das ativistas trans não gostamos de radfem, estão aí as evidências.
Imagem de destaque: Unsplash/ Sharon McCutcheon.
RadFem = diarreia oral 🙂