Porque ser uma feminista trans inclusiva vai além de apoiar a causa trans
Texto de Leonarda Lisboa.
“Feminismo trans-inclusivo” é mais que uma abordagem do feminismo que abarque as perspectivas trans ou ainda as perspectivas trans sobre o feminismo. Enquanto essa abordagem geralmente é relacionada ao feminismo de “terceira onda”, ao feminismo “pós-moderno”, pós-estruturalista, queer e ao liberal, ela também existe em outras vertentes do feminismo como o feminismo interseccional e até mesmo o feminismo marxista.
Essas vertentes se contrapõem a visão de sexismo como sendo a resumida e simplista visão de uma opressão hierárquica unilateral, na qual o homem é sempre opressor a mulher sempre oprimida e fim de história. Ao invés disso esses feminismos apontam que existem inúmeros “duplos-padrões” que distorcem essa regra em diversos contextos, criando variações baseadas no genital, gênero e sexualidade. Em adição a perspectiva do sexismo (visão na qual os homens são vistos como superiores as mulheres), temos: heterossexismo (onde heterossexuais são vistos como norma, marginalizando não-heterossexuais), monossexismo (onde pessoas que se atraem por apenas um gênero são melhor vistas que bissexuais/pansexuais), cissexismo (visão na qual pessoas cis são vistas com naturalidade e pessoas trans como doentes), masculino-centrismo (visão na qual a masculinidade é supervalorizada e tudo relacionado a feminilidade diminuído)… Assim como existem outras formas de opressão que influenciam no sexismo e como ele se manifesta socialmente, tais como racismo, capacitismo, classe social… Fazendo com que a dicotomia “homem sempre opressor x mulher sempre oprimida” pareça ultrapassada e distante da realidade.
Desse modo um feminismo trans inclusivo está relacionado a ideia de que existem múltiplas formas de sexismo e estas interagem entre si, ou seja: existe não apenas a relação de opressão do machismo e misoginia, mas também da homofobia, bifobia e transfobia como tipos de sexismos interrelacionados ao sexismo. E que negar a existência de uma dessas opressões, ao resumir sexismo a uma hierarquia simplificada, nega-se as demais. Um feminismo trans inclusivo é mais do que um feminismo que abarque as questões trans, é um feminismo que desbanca a ideia de que existe uma experiência única e um privilégio homogêneo relacionados a gênero, e resumir o feminismo trans no questionamento “se mulheres trans contam ou não como mulheres” é um desserviço não apenas para as mulheres trans, mas para todas vertentes feministas.
Imagem: Irmãs Feministas.