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parada viviany Créditos Nathalie Provoste Full view

RESPEITA AS TRAVESTI

Por Claus Augustus Corbett.

Cara, um texto bem interessante e há de se considerar realmente as formas de se chegar em todos com os debates da esquerda, mas falar que gritar “eu vou existir sim e vc vai ter de aceitar” (que é, sim, um protesto num país que mata travesti e LGBTs com uma velocidade e eficácia absurda) é “festivo” me soa como uma puta falta de contato concreto com a causa e com a realidade LGBT. Colocar na mesma linha o direito de viver de toda uma parcela da população e o “maconha é legal” me parece uma falta de respeito absurda. Vou falar aqui em especial dessa parte do texto, da parte do ‘LGBT tem que respeitar e explicar e atrair as famílias cristãs’.

Gritar “respeita as travesti” num ônibus lotado é sim forma de protesto, não é festivo. Ao meu ver, vai diretamente mostrar que estamos lutando e que vamos enfrentar. Esse post tem algumas coisas que me soam muito como culpabilizar a vítima por não resolver o preconceito do agressor. Cuidado extremo necessário nessa hora. Tem que ter políticas que visam atingir as famílias de classe baixa e base cristã? Tem. Isso é uma esfera do movimento social, da classe política. Tem que ter demonstração de que não vamos ceder às agressões diárias? Tem também.

E outra, falar que Bolsonaro e afins tão oferecendo “emprego estável. SUS que funcione. parquinho da cidade em boas condições pra levar a gurizada lá no sábado de manhã.” me parece outra desconexão TOTAL com a realidade política. A única coisa que esse povo tá oferecendo a torto e à direito e que muita gente quer é o direito de voltar a odiar e oprimir. Isso, espero eu, ninguém que esteja do nosso lado vai oferecer mesmo.

Enfim, realmente, precisa ter um diálogo. Por outro lado, acho que precisa ter afronta sim. Acho que quem tem condições de pacificamente ir lá e explicar pro “cidadão de bem” porque ele precisa respeitar a vida dos outros (não deveria ser necessário, maaaas) super deve. E quem só tem condições de bater de frente, mesmo que pra mostrar que não passarão, que não vai ser fácil continuar sendo o opressor, para que a própria sociedade se dê ao trabalho de pelo menos repensar as intensas e cotidianas agressões, tem que fazer também.

Num paralelo que pode ser sim um tanto raso, dizer que não pode ficar gritando “vai ter travesti sim” ou indo pra parada LGBT e “andando nu, fazendo sexo casual em público” (o que me soa, NA BOÍSSIMA, uma coisa bem homofóbica de se dizer), é como falar “o pobre preto não pode ficar batendo de frente com a polícia, tem que sentar e conversar pra explicar pra eles que também são gente”. Os responsáveis pelo genocídio LGBT (em especial da população trans) é o cidadão de bem. Não me venha com essa de ‘tem que ter menos afronta, ser menos festivo’. Parem de culpar as vítimas.

Fora que, só pra retomar a ideia aí da pobre família cristã que não tem condições de entender que LGBT tb é gente: conheço um monte de gente de classe baixa e devota que prega princícpios do cristianismo como aceitação e amor ao próximo. Falar que esse povo é incapaz de aceitar a população LGBT sem pegar pela mão e levar até um lugar melhor também me parece desmerecer quem segue esses preceitos ao invés de usar a religião, assim como a posição política, pra poder exercer seu ódio em paz.

Tem coisa nesse post para se considerar? Tem sim. Para ambos os lados.

E RESPEITA AS TRAVESTI.

Imagem: Nathalie Provoste, Catraca Livre.

Written by Beatriz