Richard Dawkins, nós temos o direito de existir
Por Jéssica Inanna.
Essa é a primeira frase do texto pseudocientífico e transfóbico que Richard Dawkins compartilhou:
“Antes do século 20, não existia essa coisa de mudança de gênero.” (sic)
O texto é de um blog chamado “Rational Optimist” (Otimista Racional) e está cheio de informações falsas, distorcidas, ideias do senso comum que são tomadas como fato, estimativas tiradas do próprio rabo, etc. O autor deveria mudar o nome do blog para Pessimista Irracional - seria mais coerente.
Por que um cientista que ficou famoso por defender o racionalismo, o raciocínio lógico, as evidências, a ciência, etc, compartilha um texto pseudocientífico de tão baixo nível?
Por isso que eu insisto em estudar, analisar e escrever sobre vários transgeneridade através da História, principalmente nas sociedades antigas. Já debati nas redes com pessoas (inclusive supostamente progressistas) que se recusam a ler o que eu escrevo e continuam dizendo isso: transgeneridade é uma moda.
Se você prestar atenção, essa mesma ideia está por trás de práticas e violências transfóbicas de bolsominions, trumpminions, reacionários, fundamentalistas, radfems, esquerdomachos, stalinistas, etc.
Essa ideologia não é científica, mas reflete um incômodo com a nossa existência, o que leva a um saudosismo da época que nós supostamente não existíamos.
Melhor dizendo: da época que nós não tínhamos o DIREITO DE EXISTIR.
Porque a transfobia por trás do genocídio de pessoas trans (que ainda existe!) é a mesma ideologia que apaga a nossa existência da História. Distorcem textos, inventam mil e uma explicações para mil e uma evidências, espalham fake news e apelam para todo tipo de rodeio argumentativo. Pois todas as hipóteses devem ser consideradas, todas são válidas, exceto uma: a de que nós sempre existimos.
Bom, tenho uma péssima para quem pensa assim. Há milênios que nós somos perseguidas, marginalizadas, violentadas e mortas, mas, vejam só, ainda estamos aqui. Porque isso que desejam - que nós deixemos de existir - é intrinsecamente impossível.
Nós podemos perder mil batalhas, mas vamos vencer a guerra. Porque, gostem ou não, nós temos o direito de existir.
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