Sobre ser uma mulher trans em uma sociedade cisnormativa
Por Hísis Rangel. Imagem concedida pela autora.
Sobre ser uma mulher trans em uma sociedade cisnormativa:
Bem, não sei como começar, mas acho que todos ja tem noção, a primeira barreira é dentro de casa, é vc ser rejeitada pelo seu pai que honra pela sua masculinidade e todo dia faz coisa pra me denegrir, e sempre afirma que sou a maior decepção da vida dele, depois vem o meu irmão mais velho, que diz que se eu quero ser viado que eu seja na rua, e que se me ver na rua com roupas femininas vai me lixar. Depois da família, vem a religião, vixiiiii, nem preciso explicar essa parte né? Depois vem os estudos, que nem todas completam pela discriminação e constrangimento sofrido nas instituições de ensino básico. Me sinto privilegiada por ter concluído meu ensino básico e ingressado no ensino superior público, mas por mais que a UFF Campos seja uma bolha acolhedora das minorias, nao me sinto confortável, me assusto em pensar que sou a primeira travesti a ocupar uma cadeira da instituição que ja funciona há mais de uma decada, cadê as minhas manas nas faculdades? Cadê as minhas manas circulando pela cidade? Cadê as minhas manas trabalhando no centro de compras da cidade? Com quantas travestis vc tem amizade? Pq? Aí eu te pergunto: cadê as minhas manas? A resposta é clara, estão na madrugada, vendendo seus corpos pq não são admitidas no mercado de trabalho formal, sendo exploradas por cafetões em ruas públicas, e se não der dinheiro ao cafetão, temos nossa integridade física violada. Isso tudo acontecendo na rua com várias viaturas da PM circulando. Dói vc ser motivo de piadas, dói vc implorar para ser chamada pelo seu nome social. Dói você entrar no banheiro no qual se identifica e ter medo de ser constrangida, e até expulsa do ambiente. Dói você levar um não do seu parceiro em público, e um sim sorrateiramente, dói ser chamado de ele. Dói não namorar, pq afinal, quem namora um traveco? Dói ser trans. Porém me reafirmo TRAVESTI todo santo dia, e resisto com a cabeça erguida tendo orgulho do que sou.
Hísis Rangel.
Edit1: Manas e manos, quem puder compartilhar o texto, ficaria super honrada, queria muito que viralizasse e chegasse nas mãos de muita gente. Conto com vocês <3