Arquivo do mês: novembro 2011

Violência Contra a Mulher também é Violência Discursiva

Muitas vezes (e/ou constantemente se você é um/uma leitor@ de blogs e jornais alternativos também) lemos nos jornais e blogs sobre casos de violência física contra mulheres (cis): estupros, assassinatos, espancamentos (dentro ou fora do ambiente doméstico) etc.

Muitos desses atos eu considero o ‘efeito’ ou a ‘prática’ de algo muito maior que está por trás embasando tudo isso; a ideologia machista, que como já sabemos produz efeito desumanizador da mulher garantindo assim sua subordinação como sujeito de categoria inferior na hierarquia das classes sociais. Porém para essa ideologia operar, ela irá encontrar na linguagem um lugar privilegiado para funcionar, através do que um teórico da linguística de nome Althusser chamou de Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE). Esses AIE’s, seriam o meio pelo qual (digamos, a ‘ferramenta’), a ideologia opera (não só a machista, mas a ideologia em seu sentido amplo). Os AIE’s apareceriam na forma das instituições regulatórias, como a Escola, a Igreja, a Família e eu diria a Clínica (discurso médico; biopoder), a Politica (retórica política), e o próprio Estado em si.

Na base da violência física, a violência de origem ideológica, que opera atraves de AIE’s que por sua vez utilizam-se de discursos para regular e fazer a manutenção da ideologia. Dessa forma temos então discursos violentos machistas promovendo a manutenção do patriarcado. Todo discurso é por si mesmo violento porque não existe igualdade entre os sujeitos do discurso, por exemplo entre um locutor e um interlocutor sempre um discurso exercerá uma função de dominação sob o outro, e nunca haverá neutralidade, mas sempre relação de subordinação.

Dentro desse contexto, já podemos excluir obviamente a hipótese de que o discurso jornalístico poderia ser de algum modo remotamente neutro. Já sabemos que não o é, e adota posições de acordo com os sujeitos que escrevem a matéria, o editor que edita, posição ideológica-histórica do jornal, recorte que o jornal faz para incluir determinado assunto e não outro etc.

É por isso que nesse Dia de Eliminação da Violência Contra a Mulher lutaremos também contra a violência discursiva machista. Já falei em outro post sobre alguns xingamentos machistas, mas aquilo foi apenas um pequeno recorte.

Pensemos então. Quando usarmos xingamentos machistas, apagarmos as identidades femininas, usarmos pronomes masculinos quando poderíamos ter usado também femininos, quando desconsiderarmos a opinião de uma mulher apenas por ser mulher, enfim, quando utilizarmos de machismo em nossos discursos, vamos pensar na força desses discursos. Sim, porque o discurso machista tem sua força, e também seus efeitos; seu reforço promove a violência constante que vemos no dia a dia; o silenciamento ante a violência doméstica; a falta de solidariedade para com mulheres que sofreram abusos sexuais e/ou estupros; a desconsideração das opiniões e reivindicações de uma e/ou um grupo de mulheres; a arbitrariedade e falta de consideração em que se julga o feminicídio e dão o nome de “crime passional” mascarando sua real raiz que é o machismo, etc.

Seguem abaixo alguns links sobre o Dia da Eliminação da Violência contra a Mulher:

http://blogueirasfeministas.com/2011/11/violencia-inclusao-espacos-politicos/

http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2011/11/25/dia-internacional-pela-eliminacao-da-violencia-contra-as-mulheres/

http://pimentacomlimao.wordpress.com/2011/06/09/sobre-os-feminicidios/

http://www.audaciadaschicas.com/2011/11/pelo-fim-da-violencia-contra-as.html

http://feminismo.org/2011/11/contra-toda-mostra-de-patriarcado-tolerancia-zero/

http://www.adrianatorres.com.br/viajando-na-maionese/blogagem-coletiva-fimdaviolenciacontramulher.html

http://madrid.tomalaplaza.net/2011/11/24/comunicado-25-noviembre-2011-dia-internacional-contra-las-violencias-machistas/

http://brizas.wordpress.com/2011/11/15/25-de-noviembre-dia-internacional-contra-la-violencia-de-genero/

http://pimentacomlimao.wordpress.com/2011/11/18/feministas-em-ativismo-online-pelo-fim-da-violencia-contra-a-mulher-ii/

http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=21823:o-machismo-nos-espacos-politicos-da-esquerda-socialista-brasileira&catid=315:a-segunda-luta&Itemid=21

EDIT:

Mais postagens:

http://foifeitopraisso.blogspot.com/2011/11/sorte-sua-que-e-perseguida-por-um.html

http://www.rubensjardim.com/blog.php?idb=29665

http://colunaecletica.wordpress.com/2011/11/25/voce-faz-a-sua-parte/

http://cynthiasemiramis.org/2011/11/25/seguranca-publica-politicas-publicas-e-violencia-contra-mulheres/

http://mayroses.wordpress.com/2011/11/25/mulheres-indigenas-violencia-opressao-e-resistencia/

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Dia Internacional da Memória Trans; Dia da Consciência Negra:

Dia 20/11 é o Dia Internacional da Memória Trans e também o dia da Consciência negra no Brasil.

Esse é o mês internacional de visibilidade trans, porém nada foi relatado ou nenhum evento marcado por nenhuma das principais militâncias LGBT’s no Brasil, nem ABLGBT, APOLGBT, GGB, etc. Nenhum portal LGBT noticiou.

Enquanto o movimento trans* e LGBT internacional se articula, infelizmente no Brasil continuamos invisíveis. Por isso esse post não será sobre o Dia da Consciência Negra (o qual existem inúmeros posts circulando pela internet e que serão devidamente linkados no fim do texto) e sim sobre visibilidade trans*.

A visibilidade trans* no Brasil praticamente inexiste e as pessoas trans* e aliad@s terão que lutar para garantir voz e espaço mesmo dentro das militâncias. O dia da MEMÓRIA trans* que não foi LEMBRADO é o dia no qual lembramos das vidas de todas as pessoas que sofreram e perderam suas vidas devido ao cissexismo. Em suma, que perderam suas vidas por não se encaixarem no estereótipo normativo esperado de ‘mulher’ e ‘homem’ socialmente designado.

Nessa última semana, percebi que não só a visibilidade trans* era quase nula, mas que a visibilidade das pessoas trans* que se ID com identidades masculinas (trans FTM’s – mas não só), essa sim inexiste. Mais de um ativista LGBT revelou não conhecer o termo.

Nesse dia vamos pensar em quantas pessoas trans* conhecemos, o quanto conhecemos sobre o assunto e sobre ativismo, e se REALMENTE temos o direito de dizer que somos ativistas LGBT.

Vamos nos educar para não cairmos em discursos ofensivos.

Nesse dia vamos lembrar de todas as pessoas trans* E negras que perderam suas vidas, pessoas que são constantemente desumanizadas pela sua condição identitária, simplesmente por não se encaixarem na visão normativa social de corpo, gênero e raça. Lutar contra a desumanização das ID’s trans e lutar contra o racismo. Lutar pela integração dessas pessoas no meio social, garantindo humanidade, dignidade e acesso.

Por tod@s @s Trans e Negr@s que perderam suas vidas. Lembraremos. Sempre.

trans_remb

[Legenda: Dia da Memória Trans – 20 de novembro].

Links para Textos sobre o Dia Internacional da Memória Trans. Infelizmente todos em inglês pois somente o ativismo internacional postou sobre o dia como já foi dito:

Site oficial – Trangender Day of Remembrance: http://www.transgenderdor.org/

Site Remembering our dead – Lista com nomes das pessoas que perderam suas vidas: http://www.rememberingourdead.org/#

http://www.huffingtonpost.com/rebecca-juro/remembering-our-dead-and-_b_1099745.html

http://www.fenuxe.com/2011/11/19/transgender-day-of-remembrance/

http://transgriot.blogspot.com/2011/11/let-each-name.html

http://www.thefword.org.uk/blog/2011/11/20th_november_2

http://radicallyqueer.wordpress.com/2011/11/20/transgender-day-of-remembrance-and-what-we-can-learn/

Links para postagens do Dia da Consciência Negra, o qual não foi evidenciado aqui, mas não será esquecido:

http://jardimdelilith.blogspot.com/2011/11/dia-da-consciencia-negra.html

http://www.audaciadaschicas.com/2011/11/qual-e-o-pente-que-te-penteia.html

http://blogueirasfeministas.com/2011/11/mulheres-negras-internet/

http://borboletasnosolhos.blogspot.com/2011/11/dia-da-consciencia-negra.html

EDIT: novas postagens - Consciência Negra:

http://thais-joi.blogspot.com/2011/11/preto.html

http://souferrofundido.blogspot.com/2011/11/para-ser-negra-no-brasil-e-preciso.html

http://polentanews.blogspot.com/2011/11/dia-da-consciencia-negra.html

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O que é cissexismo?

[EDIT: Essa postagem foi revisada, atualizada e ampliada. Eu, Hailey, acredito que esse texto não dá mais conta de definir cissexismo e por isso escrevi um mais atual. Para ler a versão mais nova clique aqui].

O que é cissexismo? Este termo não é novo e antes de tentar explica-lo, primeiramente há a necessidade de explicar o que é cisgênero. O termo cisgênero, segundo a Wikipédia (em inglês) data mais ou menos de 1994 e foi criado por Carl Buijs, porém suas origens parecem incertas.

Uma pessoa cis é uma pessoa na qual o sexo designado ao nascer + sentimento interno/subjetivo de sexo + gênero designado ao nascer + sentimento interno/subjetivo de gênero, estão “alinhados” ou “deste mesmo lado” – o prefixo cis em latim significa “deste lado” (e não do outro), uma pessoa cis pode ser tanto cissexual e cisgênera mas nem sempre, porém em geral ambos.

O uso do termo cisgênero/cissexual é urgente e MUITO importante, porque atualmente ainda a militância e muitos coletivos ativistas utilizam incorretamente o termo mulher/homem biológico para designar pessoas cissexuais e cisgêneras, na tentativa de diferenciar pessoas trans* (sem falar no problema do termo para pessoas interssexuais, as quais ninguém nunca lembra). Deriva daí que não só a Teoria Queer mas outros Estudos das Ciências Sociais já criticaram (e ainda criticam) tem bastante tempo a ascensão do biopoder para capturar/controlar o que deve ser ou não verdade em termos de morfologia/corpo, em alinhamento com gênero, o mesmo alinhamento a que me referi anteriormente. O discurso biológico aliado com o médico, endossa o dimorfismo, patologiza as identidades trans* e não-binárias. A discussão do biopoder ficará para outro post.

Cissexismo:

Cissexismo será então qualquer discriminação baseada em:

1) Na noção de que só existe um tipo de morfologia (corpo) e este deve estar alinhado com o gênero designado ao nascer e/ou;

2) Noção de que só existem 2 gêneros (binários: masculino/feminino) e que uma pessoa deve estar alinhada dentro de um desses 2, e/ou;

3) Noção de que uma pessoa trans* tem uma vivência menos ‘verdadeira’, e/ou nunca será ‘verdadeira’ se não fizer modificações em seu corpo para ficar mais próxima de um dos gênero binários, e/ou;

4) Noção de que uma pessoa precisa estar dentro de um desses gêneros binários, porque senão ela não será feliz, ou não será aceita etc. e/ou;

5) Noção de que pessoas que não se encaixam no binário são doentes mentais, tem patologia e precisam se tratar de algum modo para se curar e que essa cura ou será o alinhamento ou o processo transsexualizador, e/ou;

6) Noção de que o corpo da pessoa é “bizarro”, que ela não pode viver no “entre” etc. o que pode caracterizar também transmisoginia e/ou transmisandria e/ou;

7) Noção de que a pessoa “dá pinta”, é muito “escandalosa” chama atenção, principalmente no que diz respeito a performance/atitudes que não estão alinhadas do ponto de vista cis. Achar que porque essa pessoa ‘chama atenção’ e não age como esperado do alinhamento cis, ela irá “atrapalhar a causa”, “estragar a imagem do grupo” etc. Atenção porque esse discurso está bastante difundido no meio LGBT. E/ou;

8) Uso de termos ofensivos, mas que muitas pessoas (atenção LGBT’S) não acham ofensivos, ou evocar arbitrariamente (sem a permissão da pessoa) o nome designado ao nascer, a experiência “pregressa” (falar em “antes” e “depois” é cissexista também); termos como ‘transvestir’,’transformista’, ‘traveco’, ‘transsex’, ‘t-gata’ (sim ‘t-gata’ é um termo fetichizador cissexista e sexista também, objetificador: atenção pessoas que se identificam como “t-lovers”); uso de termos como crossdress, drag, drag queen/king, quando você não sabe qual é a identidade da pessoa. E/ou;

9) Cont. item 8 – Designar arbitrariamente a identidade da pessoa. Conhecer alguém e prontamente decidir qual é a ID da pessoa baseada na imagem (visual e/ou performática) (da sua posição cis) que você tem dela. Alinhar pronomes e identidades também é cissexista. E/ou;

10) Na simples discriminação pela pessoa não ser cis, por ter qualquer comportamento diferente do esperado pelo alinhamento cis. Nesse ponto o sexismo também tem papel importante. Cissexismo e Sexismo são faces da mesma moeda. Desenvolverei esse assunto em outro post. E/ou:

11) Qualquer outra situação que se encaixar em discriminação, pois com certeza não consegui listar tudo aqui, existem inúmeras outras.

Binarismo:

Existe outro termo chamado Binarismo, aplicado para discriminação direcionada à pessoas que se identificam como fora do sistema binário de gênero. Ao meu ver, cissexismo também pode ser aplicado para este tipo de discriminação, porque engloba, porém nos EUA e aparentemente internacionalmente há esta separação mais definida. Cissexismo está mais relacionado com sentimentos anti-trans*, transmisoginia, transmisandria, a “verdade” cis versus a “mentira” da experiência trans*. Lembre-se, na sociedade cisgênera, pessoas trans* e/ou não binárias e/ou não cis são “mentira”, não existem, são doentes etc. porque na lógica cisgênera/cissexual somente as pessoas cis são a “verdade” compulsória endossada por todos os designíos ao nascer (desígnio de sexo e de gênero + desígnio heterossexual que também tem papel) e endossada pelo discurso médico e biológico.

Para finalizar, gostaria de deixar claro que essas definições e essa explicação não são diretamente derivadas da Teoria Queer nem de nenhuma teoria Acadêmica. Muito embora as teorias tenham se debruçado a teorizar sobre os termos e sobre as relações complexas, e de sem dúvida ter relação com conceitos do Feminismo, da T. Queer e Filosofia da Linguagem (para dizer no mínimo), não será a Teoria nem a Academia que norteará a utilização desses termos. São os grupos discriminados que determinaram e que devem determinar quais termos são ofensivos e quais devem ser utilizados.

Esses termos são utilizados e foram retirados de comunidades Genderqueers* (usando genderqueer como termo umbrella, são várias comunidades de pessoas não-binárias e/ou não-cis, e/ou trans*, e/ou outras ID’s).

Fontes:

http://angerisjustified.wordpress.com/2010/12/27/definitions-cissexism-and-binarism-for-google/

http://dearcissexism.tumblr.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/Cisgender

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08/11–Aniversário de Herculine Barbin; Dia Internacional da Memória Intersexual

 

Ontem foi dia 08/11, dia no qual completaram os 14 dias que começaram no dia 26/10 - dia Internacional da Visibilidade Intersexual. Dia 08 também é o aniversário de Herculine Barbin, pessoa intersexual que viveu no séc. IX e teve suas memórias publicadas por Foucault.

Mês de Outubro e Novembro são meses bastante ativos para a militância trans* internacional devido ao grande número de datas. O mês de Novembro é o mês da visibilidade trans*.

Lembrando ainda que dia 22 de Outubro foi o dia de Ação pela Despatologização Trans* e que o movimento Intersexual internacional também luta pela despatologização de suas identidades as quais ainda estão submetidas por diagnósticos pautados por normas cisgêneras cissexistas.

Recentemente, o site A Capa, publicou um texto falando sobre patologização e “transtorno de gênero”. O texto é da Berenice Bento uma pesquisadora a qual eu respeito e admiro muito, por ser uma acadêmica e ativista defensora dos direitos trans* lutando pela despatologização das identidades trans*. O texto é muito bom e vale a pena ser conferido, aqui.

 

Este blog, embora se disponha a debater sobre diversos assuntos de Direitos Humanos, principalmente Feminismo, recentemente notou uma defasagem no que diz respeito à visibilidade trans* – com o asterisco – porque me refiro as identidades trans* englobadas, dentro e/ou fora do binário, como também uma desafasagem na visibilidade de outras identidades não-binárias e não-trans* mas também não-cisgêneras, como por ex. Id’s genderqueer, genderfluid, three-spirit, neutrois, femme, etc.1 Por isso, iremos enfatizar a visibilidade dessas identidades, evidenciando-as no blog. Também serão evidenciadas as identidades bissexual, panssexual e assexual, pois carecem urgentemente de visibilidade no Brasil.

1 Obs: Todos esses termos, embora possam soar complexos e serem em língua estrangeira, serão explicados, pois este blog também adotará uma posição mais educativa, visto que nota-se a falta de informação desse assunto ou sobre essas identidades dentro da própria militância LGBT, sempre tomando como referência a Teoria Queer – objeto de estudo desta autora. Todavia não se pode mais negar o crescimento dessas identidades no cenário internacional, principalmente nos Estados Unidos e Canadá (daí os termos serem em inglês).

Seguem os links para sites internacionais que fizeram referência ao dia 08/11:

The f-word UK: http://www.thefword.org.uk/blog/2011/11/intersex_day_of?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

Organization Intersex International: http://oiiaustralia.com/4235/intersex-day-of-remembrance-8th-november/  e http://www.intersexualite.org/anglophone.html

Scottish Trans: http://www.scottishtrans.org/Article.aspx?id=84

 

Não houve informação sobre blogs ou portais LGBT’s brasileiros que postaram sobre o dia. Caso alguém tenha conhecimento, me contate que eu irei editar e adicionar aqui.

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